29/12/2008

Responda depressa: é possível alguém que faça musculação em acintosas academias escrever algo que se apresente com o nome de literatura? Ou esse alguém é, a priori, um idiota?

Ciência bizarra

Os raios-x e as imagens em movimento foram inventadas à mesma época, no final do século dezenove. Assim como houve projeções de filmes em feiras, cafés-concerto, circos e vaudevilles, os raios-x costumavam ser exibidos nesses ambientes sob o mesmo slogan de "última maravilha da ciência". Nas demonstrações de raios-x, o público era convidado a ver as suas próprias vísceras, sendo grande a procura por esse tipo de atração. Levou algum tempo para descobrirem que a radiação do raio-x podia matar. O inventor do processo, por exemplo, morreu intoxicado, depois de levar a mulher à morte, de tanto tirar-lhe radiografias. Quantos não devem ter sucumbido também ao conferir esse passatempo inocente nas bizarras feiras do século dezenove.

26/12/2008

Anatomia do idiota

Um idiota se define pela sua roupa, pelo seu cabelo: a roupa dele é idiota, o cabelo dele é idiota. Meu vizinho, por exemplo. Deve estar na casa dos 50. Ontem, fez questão de envergar uma bermuda amarela, com motivos em preto, daquelas que terminam pelos joelhos. Era a imagem da idiotia, como a dizer: vejam, ganhei de Natal (esta coisa horrível). O cabelo, meio espetado, penteia para trás. Dá pra notar a tinta. Deve passar horas diante do espelho, a ver se lhe salva alguma qualidade física, pois as morais, perdeu-as todas. Trata-se de um delegado. Ignora o significado da palavra cidadania, com toda certeza. Se mal a conhece, é para resguardar seu “direito” de ser o imbecil que é. A estupidez dele me lembra a de meu ex-cunhado, talvez o maior idiota de que se tem notícia neste mundo de deus. Aquele pedaço d’asno guardava biscoitos e chocolates na geladeira e costumava xingar se alguém os comesse. Era meio gordo, feio como só um idiota consegue ser. Tinha uma verruga no nariz. O nome, Ricardo, também era próprio dos piores idiotas. A calça, sempre no pescoço, atada por um cinto. Camisas pólo, naturalmente. Ouvia muito um entulho musical dos anos 80, o Marillion (na burrice dele, considerava aquela ahn... bosta um "must"). E jogava futebol de salão, como todo bom idiota.

22/12/2008

O golpe final

Gênio é gênio. Capturei esta pérola do Saramago no blog do Massote. Leiam aí.
O golpe final
Dezembro 16, 2008 by José Saramago
O riso é imediato. Ver o presidente dos Estados Unidos a encolher-se atrás do microfone enquanto um sapato voa sobre a sua cabeça é um excelente exercício para os músculos da cara que comandam a gargalhada. Este homem, famoso pela sua abissal ignorância e pelos seus contínuos dislates linguísticos, fez-nos rir muitas vezes durante os últimos oito anos. Este homem, também famoso por outras razões menos atractivas, paranoico contumaz, deu-nos mil motivos para que o detestássemos, a ele e aos seus acólitos, cúmplices na falsidade e na intriga, mentes pervertidas que fizeram da política internacional uma farsa trágica e da simples dignidade o melhor alvo da irrisão absoluta. Em verdade, o mundo, apesar do desolador espectáculo que nos oferece todos os dias, não merecia um Bush. Tivemo-lo, sofrêmo-lo, a um ponto tal que a vitória de Barack Obama terá sido considerada por muita gente como uma espécie de justiça divina. Tardia como em geral a justiça o é, mas definitiva. Afinal, não era assim, faltava-nos o golpe final, faltavam-nos ainda aqueles sapatos que um jornalista da televisão iraquiana lançou à mentirosa e descarada fachada que tinha na sua frente e que podem ser entendidos de duas formas: ou que esses sapatos deveriam ter uns pés dentro e o alvo do golpe ser aquela parte arredondada do corpo onde as costas mudam de nome, ou então que Mutazem al Kaidi (fique o seu nome para a posteridade) terá encontrado a maneira mais contundente e eficaz de expressar o seu desprezo. Pelo ridículo. Um par de pontapés também não estaria mal, mas o ridículo é para sempre. Voto no ridículo.
Publicado em O Caderno de Saramago - blog do escritor

Sapateiros sem fronteiras

Está na hora de criar uma ONG. Não existe a organização anarquista "Confeiteiros sem fronteiras?" Com inspiração nesse modelo, poderia ser fundada a "Sapateiros sem fronteiras", para se atirar sapatos nos governantes que escorreguem no tomate. Pensando bem, acho que ia faltar sapato...

21/12/2008

Jamais, nunca, em hipótese alguma, confuda: literatura de auto-ajuda com literatura.

15/12/2008

12/12/2008

Homens e livros

Adoro sair de um bom livro e entrar em outro tão bom quanto. Terminei "A arte de viajar", um dos melhores que já li, e fui para "Conversas com Woody Allen", que poderia se chamar também "Tudo que você queria saber sobre Woody Allen mas tinha vergonha de perguntar". Extraio dali uma piadinha, contada pelo cineasta, muito elucidativa sobre a vida. O cara chega no psiquiatra e diz: "Doutor, meu irmão está maluco. Ele pensa que é uma galinha." O psiquiatra pergunta: "E por que você não o interna?" E o cara responde: "Porque preciso dos ovos!" É isso. A vida é cheia dessas galinhas. Seus ovos não costumam ser de ouro.

11/12/2008

Vicky Cristina Barcelona

Os filmes do Woody Allen são melhores do que uma boa sessão de psicanálise. Vicky Cristina Barcelona não foge a essa regra e envereda pelas antigas obsessões do cineasta, como as relações entre casais, sempre à beira do fracasso. trata-se de um filme na linha do "Manhattan", "Crimes e pecados" e "Maridos e esposas", na contramão da sua tendência bergmaniana, mais trágica. Eu vinha gostando de todos até aqui, principalmente dos últimos, mais afins com a tragédia do que com a comédia de costumes(destaque para O sonho de Cassandra, talvez o melhor de todos). Vicky Cristina Barcelona é um filme mais leve, mais feminino. O texto revela o mais puro Allen, com todos aqueles diálogos bem escritos, ultra-bem-humorados, meio rasos, mas sempre exemplares de uma certa instabilidade nas relações amorosas. A coisa toda funciona às maravilhas, a trama girando em torno de um quadrângulo amoroso, com aventuras sexuais impensáveis e pitadas de Miró, fotografia, poesia, vinho e pintura abstrata. Não é o the very best of mr. Woody Allen, com certeza, mas é dos grandes. Saí do cinema com a sensação de ter deitado no divã do Freud.

09/12/2008


















Special thanks: Woody Allen
Todo mundo deveria ter algo como um dublê, ou uma segunda vida, sei lá. Uma para ir ao cinema, ver todos os filmes do mundo, beijar as mulheres bonitas, ficar olhando as mudanças da natureza, outra para as coisas chatas, tipo cuidar da burocracia, trabalhar, fazer o orçamento, aprender a dirigir, perder tempo com discussões idiotas, etc. Ah, como seria bom!

06/12/2008

Vejam que da pesada. O vídeo é de um documentário pela paz. Confiram lá: http://www.youtube.com/watch?v=Us-TVg40ExM

04/12/2008

Inscrições para vaga de professor na Escola. A velha senhora:
- Eu sou das antigas. Você formou-se aqui também?
- Sim.
- Em que ano?
- Antes da batalha de Constantinopla. E a senhora?
- Ah, eu sou do tempo em que o Mar Morto ainda estava doente.
- O senhor é o síndico?
- Às vezes...
- E como é morar aqui?
- Olhe, o vizinho ali em frente certa vez quis dar um tiro no ex-morador deste apartamento só porque ele pediu para abaixar o som. De vez em quando, o cara faz um churrasco no quintal dele e a fumaça vem toda pra cá. O pessoal do treze também amola bastante com o som alto e barulhos de sexo. E tem uma vizinha pirada que costuma fazer uns escândalos. Ela arrancou sangue na mãe outro dia. Ah, tem um menino neurótico também, que vive chorando. Mas tirando isso, é um ótimo lugar.
- Anh... já vou indo então.
- Volte depois.
- Não, obrigada.

03/12/2008

Hilário!

Descobri no youtube um vídeo com o Bush cantando "Sunday bloody sunday". Vejam aqui: http://video.google.com/videoplay?docid=6805063692754011230