31/07/2008

Papo escatológico-acadêmico

Eu e meu amigo Tuca Maia (recém-doutor) engatávamos um papo acadêmico. Conversa vai, conversa vem, um cara da graduação entrou atirando: "Já ouvi muito doutor falando merda." Eu e o Tuca não perdemos a fleuma: "É, colega, mas a merda dita por um doutor é sempre uma merda dita com muita propriedade. Não se trata, portanto, de merda, mas de massa fecal." Pano rápido.

Lula como Padim Ciço

O Massote continua pegando no pé do Lula....

28/07/2008

Livro do chá

Trecho do “Livro do chá”, do escritor japonês Kakuso Okakura: “Os incapazes de sentir em si mesmos a pequenez das coisas grandiosas tendem a ignorar nos outros a grandiosidade das pequenas coisas”. Fonte: Folha, de sábado.

25/07/2008

Lula na pele de Jânio

O Lula tá cada vez mais parecido com o Jânio Quadros, pelo menos é o que o Massote anda dizendo em suas análises políticas. Assino embaixo.

Notas de um consumidor flâner

Estava às voltas com um celular pouco falante. Depois de um périplo para descobrir o defeito, vou ao shopping popular Tupinambás, atrás de um certo “Pronto-socorro do celular”. Andar por esses corredores estreitos é como percorrer uma instalação sobre o apocalipse, a antevéspera do caos, a ante-sala do inferno. Em sociedades barrocas, como a nossa, o cenário chega a ser comum: sobrecarregam todos os espaços possíveis e imagináveis de adereços e acessórios inúteis: trata-se, com efeito, de um objetivo mais estético do que pragmático. A estética da carnavalização, diria Oliverio Sarduy. Mas também há um aspecto trágico por detrás de todo esse excesso, esse acúmulo de plumas, paetês, quinquilharias eletrônicas, dvds pirateados, tralhas domésticas e badulaques em geral a adornar os inúmeros balcões daquelas prateleiras e barracas: as pessoas ali parecem já ter passado por poucas e boas, trilhado caminhos acidentados, minados por toda sorte de adversidades. A acumulação exasperada de itens supérfluos, perfunctórios, procura esconder aquilo que não se quer deixar ver. Lê-se perfeitamente nos olhos daquelas pessoas, porém, a vida esfrangalhada que levam. Ainda que, naquele exato momento, experimentem um efêmero orgasmo com o que chamam eufemicamente de seu “próprio negócio”.
Shoppings populares: eis a contravenção consentida, institucionalizada, e, por isso, todo cuidado é pouco. O cara que vai consertar o celular pode ser um trambiqueiro, de olho no chip novo do aparelho, o qual pode retirar, à socapa, e revender por preço melhor, colocando um outro, velho e gasto, no lugar. Na certa ele já o fez, sem que eu percebesse. Faço-me de bobo e aceito suas explicações estrambólicas, como alguém inferior, estúpido diante da sua fina erudição, hábil em não flexionar os verbos no plural. Saio dali iludido, ingenuamente feliz. À primeira verificação, porém, o aparelho já não funciona. Dirijo-me agora a outro shopping, este mais middle class, na tentativa de solucionar o problema. Consulto uma segunda opinião, no stand da operadora, e deparo com a burrice ministrada com extrema arrogância de atendentes despreparados para informar o óbvio. Só os muito sagazes enxergam o óbvio, claro. Para vê-lo, é preciso indagar-se, perguntar, duvidar exaustivamente. E alguém ali estaria preparado para tal e tanto? A melhor reposta que se encontra no parco repertório que lhes é dado repetir será um sorriso idiota no rosto e a presunção de quem acha que entender da propositalmente complexa logística das operadoras de celulares é não mais que uma obrigação. Não obstante, aceito com muita educação ser enganado e ainda compro dois cartões pré-pagos, que na certa nunca irei utilizar. É assim. Deve ser assim, é o que dizem.
Tomo um táxi e estou agora numa clínica, para um exame de ressonância magnética no joelho esquerdo. A enfermeira pede-me para tirar a roupa e colocar um avental. Sinto frio nos pés e reclamo da demora. Peço também para que não examinem meu útero, pois não apresento sinais de gravidez. Zangada, a moça responde que não atendem quando a menstruação atrasa. Dou-lhe razão e, algum tempo depois, sou levado para o estranho tubo. Pergunto se a máquina provoca ereções ou, no limite, impotência, e os enfermeiros não demonstram muito senso de humor. Este é um ambiente asséptico, clean, inútil insistir em qualquer coisa que devolva autômatos à condição humana. Médicos, atendentes e enfermeiros dão sempre respostas calculadas, pensadas para não incomodar. Sou colocado no tubo: a coisa faz um barulho infernal, semelhante ao de uma máquina de lavar roupa, com você girando lá dentro. Os enfermeiros o observam detrás de um vidro, como numa sala de interrogatório da PM. Se você mexe a perna, eles gritam num alto-falante: "favor permanecer imóvel". Terminada a sessão, o enfermeiro pergunta “que tal?”. Eu digo que prefiro bossa nova, não curto muito o techno. O rapaz sequer responde. Tenho tempo de ouvir a outra enfermeira, ainda irritada: “vou sair, para não estressar.”

19/07/2008

Este é o desenho da capa


De "A história pela metade", livro do prof. Massote


O livro "A história pela metade", do prof. Massote, já está na terceira edição. Desta vez, tem três ilustrações a mais, que apresento aqui, em primeira mão.


16/07/2008

Ao amigo

Paulo

Saulo

Barbosa

barba

rosa

preta

de nankim...

esbranquiçada

do papel AP

fazendo arte

em sua prancheta

social...

Poema do Diógenes Miquelão Aquino, amigo da UFMG, feito para este blogueiro. Obrigado, sábio filósofo!

02/07/2008




Tribulações de um síndico

O sujeito bateu à minha porta com uma intimação para o morador do 15. Sinistro, procurou extrair uma série de informações desnecessárias, como os horários do condômino no prédio, sua vida cotidiana, seu emprego, seus hábitos. Só faltou pedir o nome dos pais e dos familiares. Percebi que o cara, um policial civil, estava indo além de suas atribuições e disse a ele não poder dar mais informações do que o previsto na Constituição. Ele então parou com as perguntas, admitindo inclusive estar fora do horário permitido por lei para entrar na casa dos outros. A forma intimidatória que utilizou para me abordar dentro de minha própria casa, contudo, lembrou o passado militar brasileiro, de tão triste memória. O fato, somado a situações recentes, como o caso da favela da Providência no Rio, a invasão da PM na UFMG agredindo estudantes, as ações (ir)regulares da polícia no dia-a-dia contra jovens e crianças pobres nas periferias, leva à constatação de que o cadáver da ditadura segue insepulto entre nós, gerando toda sorte de malefícios. Se não reagirmos a tempo, daqui a uns dias estaremos habitando o pesadelo kafkiano de "O processo" sem saber porquê.