30/10/2008

Frases para desanuviar

Em política, é preciso separar o joio do germe de trigo.

Muitas vezes, a expressão caríssimo amigo deve ser tomada rigorosamente ao pé da letra.

É incrível que certos casamentos se celebrem sob um juiz de paz.

Jamais confunda: livreiro com intelectual.

Marido: ente sobre o qual recaem todas as culpas dos erros que a mulher faz.

28/10/2008

A perfect day

Eu hoje suportei bem o fato de que tudo está definitivamente perdido. Não dei a mínima para ódios e mágoas antigas, justificados ou não, passei ao largo do mau humor compenetrado de chefes e colegas de trabalho, ignorei impávido a ação inclemente do tempo no meu corpo. Saudei e fui saudado por muitos, nem liguei para travos e amarguras, tive um não sei quê de serenidade com os outros, transitei com estoicismo único até por ex-mulheres com as quais cruzei eventualmente pelo caminho, à forma de um trem desgovernado. Rebobinei secretamente antigos planos-sequência da minha vida, entendi muita coisa e desejei até felicidade a todas as figuras muito sacanas que habitam os sete quartos desta memória. Nem mesmo tive ou tenho vontade de dizer meia-dúzia de verdades, como é do meu feitio: chega, basta, vão todos para o diabo. Sublimei inclusive o calor miserável que está fazendo. Não fumei, não bebi, não cheirei, tampouco deitei-me com aquela beldade. É um dia desastrosamente perfeito. E vou indo incrivelmente bem, obrigado.

27/10/2008

O dia em que eu festejei o fim do mundo

Romênia sob Ceausescu, 1989: menina torna-se mulher, à proporção que o regime soviético se esboroa. É tamanha a ingerência do estado romeno na vida dos cidadãos que até a vida sexual da moça é monitorada. Happy ending: Ceausescu cai, a população festeja nas ruas e a moça é finalmente desvirginada, pelo filho de um policial, recém-convertido à luta popular. Passável: o cinema do Leste europeu já foi melhor.

Máximas machistas

Muitas vezes, a distância entre a santa e a vagabunda é um simples copo de cerveja.

23/10/2008

"Love is a bed full of blues": frase pinçada da música "I got the blues", dos Stones. Yeah.

20/10/2008

Quanto mais eu ouço Beatles, mais eu gosto dos Stones.

Soul survivor dos Stones: esta letra é ótima

When the waters is rough / The sailing is tough, / I'll get drowned in your love. / You've got a cut throat crew, / I'm gonna sink under you, / I got the bell bottom blues, / It's gonna be the death of me. / It's the graveyard watch, / Running right on the rocks, / I've taken all of the knocks. / You ain't giving me no quarter. / I'd rather drink sea water, / I wish I'd never had brought you, / It's gonna be the death of me.
When you're flying your flags / All my confidence sags, / You got me packing my bags. / I'll stowaway at sea, / You make me mutiny, / Where you are I won't be, / You're gonna be the death of me.
Estou lendo um livro impressionante: Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945. Tony Judt, historiador na linha do Hobsbawn diz, entre outras coisas, o seguinte sobre a Segunda Guerra: “Conflito algum registrado pela História matou tanta gente em tão pouco tempo” (...) “Estima-se que cerca de 36,5 milhões de europeus sucumbiu, entre 1939 e 1945, de causas relacionadas com a guerra (o que equivale à totalidade da população da França quando o conflito explodiu).” Mais: "No Leste e Sudeste Europeu, as forças de ocupação alemãs foram impiedosas, e não apenas porque a resistência local – na Grécia, na Iugoslávia e na Ucrânia, especialmente – travava contra elas uma batalha tão incansável quanto inútil. No Leste Europeu, as conseqüências materiais da ocupação alemã, do avanço soviético e da ação da resistência foram, portanto, de ordem bastante diversa em relação à experiência da guerra no Ocidente. Na União Soviética, 70 mil vilarejos e 1.700 cidades de pequeno porte foram destruídos durante a guerra, além de 32 mil fábricas e 64 mil quilômetros de ferrovias...” E Judt continua sua contabilidade sangrenta enumerando os prejuízos na Grécia, na Iugoslávia e na Polônia. São números assustadores. É...o diabo não tira férias.

19/10/2008

Vá e veja

A participação da ex-União Soviética na II Guerra Mundial foi de importância decisiva para a derrota de Hitler. O país localiza-se ali, bem ao lado da Europa do leste, portanto, muito mais vulnerável aos ataques das tropas germânicas do que os Estados Unidos, por exemplo, que só entraram na guerra em 1942. Ao cabo do conflito, somente na região da Bielo-Rússia, houve 638 aldeias queimadas pelos nazistas. Na contabilidade final dos prejuízos, a ex-União Soviética teve um número incontável de mortos, principalmente entre os homens, além dos prejuízos materiais. "Vá e veja" (Elem Klimov, 1985) mostra, com tintas de um realismo cru, um pouco do que foi a atuação do exército soviético nessa guerra. A situação do país é focalizada pelo ponto de vista de um garoto, recrutado como soldado ainda muito novo, num pequeno vilarejo. Na trajetória errática do garoto, momentos que ilustram a extrema dificuldade das tropas soviéticas, pobres, mal equipadas e dominadas por um terrível rigor. Ao final do filme, percebe-se que o garoto perdeu a infância, e, passado pouco tempo de sua entrada para o exército, ostenta a expressão de um homem de 70 anos. Morando às barbas de Hitler, a União Soviética, na figura de Stálin, lançou à morte boa parte de sua população masculina, a fim de solucionar um conflito de enormes proporções. E até hoje há quem pense que foram os Estados Unidos, sozinhos, que venceram aquela guerra. Roberto Begnini que 0 diga.

18/10/2008


Sinal dos tempos: a pseudo-esquerda agora age com os mesmos instrumentos da direita.
Intimaram o colega prof. Massote por manifestar suas opiniões políticas na internet. A partir de agora, não comento mais nada sobre o cenário local no meu blog. Sorry, leitores. Quem tem c. tem medo, o seguro morreu de velho. Política não é brincadeira, eu sempre soube disso, desde que fui demitido de um jornal por causa de umas charges sobre o Bill Clinton na época da Mônica Lewinsky, lembram? Vou ficar quietinho aqui, dois passos avante, um passo à retaguarda, já dizia o Lênin. Segurem aí.

16/10/2008

14/10/2008

Máxima machista

Não importa o tamanho do pênis, mas o tamanho da conta bancária.

09/10/2008

Queimem os sutiãs!

Minha vizinha é antropóloga e dá aula na UFMG. Contei a ela sobre o crime bárbaro narrado aí embaixo. Ela ficou de comunicar-se com alguém da FAFICH, do núcleo de estudos sobre a mulher, para organizarem um protesto contra as cada vez mais recorrentes agressões às mulheres por estas plagas. Bem, o Brasil não é a Noruega, ainda chafurda no atraso em relação à questão feminina. Não faltam exemplos de machismo e desrespeito; todo mundo tem um caso pra contar. O feminismo, aqui, precisa urgentemente voltar a ser uma bandeira política. 40 anos depois do maio de 68, a mulher brasileira tem de voltar a queimar sutiã. O pior é que elas não querem!...

Quando voam as cegonhas

"Soy Cuba" (Mikhail Kalatozov, 1963) está incluído, para mim, entre os cinquenta melhores filmes de todos os tempos. Acrescento outro do Kalatozov à minha lista: "Quando voam as cegonhas" (União Soviética, 1957). Stálin morrera em 1953, e ares de liberdade começaram a soprar sobre o império soviético - ao menos no que dizia respeito ao cinema. Há uma retomada de experimentações do construtuivismo russo pós-revolução, condenadas ao opróbrio pela censura stalinista, que considerava "formalismo" tudo que fugisse à estética do realismo socialista. O novo cinema soviético então atravessava a fronteira e despontava nos festivais europeus. "Quando voam as cegonhas", por exemplo, ganha o festival de Cannes daquele ano, mostrando uma história de amor durante a II Guerra Mundial, tendo a Rússia como cenário: rapaz separa-se de namorada para lutar na guerra e acaba morrendo nas frentes de batalha. O filme é narrado com extrema competência, em planos belíssimos, nos quais a câmera tem um participação fundamental, ao procurar as melhores angulações, posições e movimentos. A fotografia é impecável, fazendo opção por um preto-e-branco mais contrastado, mas ainda com muitas nuances de cinza. Os planos-sequência são lindos e lembram os de "Soy Cuba". Ecos desse tipo de cinematografia (fundada no plano-sequência) podem ser ouvidos ainda hoje, por exemplo, em "Arca russa" (Sokurov, 2002).
Quinta-feira as pessoas se vestem rigorosamente mal. A semana termina e você acaba usando a primeira roupa que pinta. A idéia é acabar com tudo isso e chegar logo ao fim de semana. Pra recomeçar tudo na segunda-feira...

08/10/2008

Segundo apurei, a facada na jugular foi premeditada. O monstro chegou a dizer aos colegas, durante o almoço, que ia "fazer uma besteira", porque não suportava ficar longe da mulher e das crianças - ninguém acreditou. Fez o que fez diante dos pequenos e se entregou, logo em seguida. O outro é o maior dos mistérios.

06/10/2008

Vez por outra, redijo notas de falecimento no boletim em que trabalho. O atestado era claro: "no dia tal, em hora ignorada, em consequência de hemorragia externa e ferida cortante, no domicílio à rua tal...". 27 anos, as facadas foram de um marido traído. Conheci a menina, vi-a há coisa de uma semana: gente fina, vendia bombons de morango, de licor e de uva (comprei muitos na mão dela). Fiquei chocado com a notícia.

03/10/2008

Ensaio sobre a cegueira

Em seu novo filme, "Ensaio sobre a cegueira", Fernando Meirelles erra na mão. Tem algo de fundamentalmente impróprio ali. A estética de Meirelles ficou muito associada ao realismo, e, quando ele envereda por uma narrativa tão fantasiosa quanto é a do livro do Saramago, parece inadequada, fora de lugar. Não dá, a ficção algo surreal de Ensaio sobre a cegueira (o livro) pede estilização. As tomadas com câmera tremida de Meirelles estão presas à estética convencionalmente ligada ao realismo documental e simplesmente não funcionam se o assunto é a bizarra distopia criada pelo escritor português. Sei lá, quando li o livro (não todo), imaginei a coisa em preto e branco, ou, de outra forma, com cenários à semelhança dos de Terry Gilliam em "Brazil, o filme". Mas Meirelles pode se recuperar no próximo filme, ele é bom e tem talento pra isso. Isso se ele voltar pro realismo, que é a sua praia.

02/10/2008

O que é cinema?

Frase pinçada de um documentário sobre os primórdios de Hollywood: "Cinema é o único negócio pelo qual você paga antes de conhecer a mercadoria."