28/05/2008

Sexo e TV em cores

Homem do século passado, lembro-me perfeitamente da chegada – um tanto atrasada – da TV em cores à casa dos meus pais, nos idos de 1980: o fato teve conseqüências profundas no contexto familiar. Em pouco tempo, o aparelho tornou-se o centro das atenções; a TV antiga, em preto-e-branco, foi rapidamente descartada, e a programação passou a ser esquadrinhada pela minha mãe. O tubo catódico ganhou uma inédita carga erótica: ligá-lo significava ter acesso, principalmente à noite, a um mundo repleto de promessas sexuais. Não que não houvesse erotismo antes da cor. O problema é que, em cores, tudo parecia incrivelmente mais lúbrico e sensual. E quanto mais a minha mãe tentava controlar o monstro que ela mesma criou, maior tornava-se o nosso interesse pelas imagens. A cena inocente de uma garota fazendo piquenique na grama, por exemplo, surgia incrivelmente picante. Anúncios de lingerie e de desodorante feminino pareciam mais calientes do que nunca. Beijos de novelas eletrizavam a nossa imaginação, causando-nos sucessivas noites mal-dormidas. A correta e salutar prática do onanismo em nossa família, em suma, deve muito ao advento da TV colorida.

26/05/2008


5 dias entre sol e mar

A vida pediu uma pausa, e zarpei com o Roni e o Eugênio para Guarapari. Éramos três cavaleiros combalidos por muitas lutas inglórias em busca de lavar a alma nas águas do mar. Água de côco, cerveja, moqueca e camarão foram a tônica, com espaço também para alguma ostra. O destaque foi um almoço na Cantina do Curuca, um restaurante enorme, só com mulheres atendendo e cozinhando, perto de Meaípe. No cardápio, bobó e rizoto de camarão. Show!

17/05/2008

Amor e ódio no cinema

Tarkovski odiava Eisenstein, que odiava Dziga Vertov, que odiava Pudovkin, que amava Griffith, também amado por Hitchcock, por sua vez odiado por Orson Welles, visceralmente amado por Godard, que também amava Rosselini e Samuel Fuller, à mesma intensidade que Nicholas Ray, que tinha ódio mortal de Hitchcock, muitíssimo amado por Truffaut, amante também de Cassavetes e de Fritz Lang, que não amava absolutamente ninguém.

16/05/2008

Frase filosófica do dia

Do meu grande amigo Roni Miranda: "Nada está tão ruim que não possa piorar".

15/05/2008

Sorria, você está sendo bisbilhotado

Ao saber da invenção das máquinas xerox, o primeiro-ministro italiano Julio Andreotti - notório mafioso, entre outras virtudes - fez o diagnóstico: haviam se acabado os segredos de estado. A frase cai como uma luva para os dias atuais. Não há nada na internet hoje que não seja de conhecimento amplo e generalizado. Tudo, virtualmente, pode ser armazenado em algum lugar e visto por outras pessoas, até as mensagens mais íntimas e pessoais. Mas quem está interessado em tanta bobagem?

14/05/2008

Vai-se Rauschenberg

Um minuto de silêncio para Robert Rauschenberg, papa da pop art - ao lado de Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Tom Wesselmann e outros grandes -, falecido ontem aos 82 anos. Rauschenberg contribuiu para modificar o panorama das artes plásticas em meados do século vinte, incorporando signos urbanos, trastes da indústria de consumo e materiais os mais diversos às suas assemblages. Tive oportunidade de conferir os trabalhos dele numa bienal em São Paulo. Era muito, muito bom.

13/05/2008

Bauhaus rides again

Li na Folha que o Bauhaus voltou, mais gótico do que nunca! Pensei que os caras tivessem morrido, com aqueles excessos todos, ou trocado o sangue e se tornado senhores gordos e respeitáveis!! Ainda ontem estava ouvindo Who killed mister moonlight?: “All our dreams have melted down / We’re hiding in the bushes / From dead man doing Douglas Fairbanks stunts / All our stories burnt / our films lost in the mushes / We can’t paint any pictures as the moon had all the brushes / Extracting wasps from stings in flight / Who killed mister moonlight?” Estou curioso para saber como a banda está hoje.

12/05/2008

Roma, cidade aberta

Roma, cidade aberta (Rosselini, 1945) está para o cinema assim como a Guernica está para a arte moderna. Filme e pintura são não apenas emblemáticos de um período na história do século vinte, mas também marcos sagrados do que de melhor a humanidade já produziu em matéria de arte. É impossível ver o filme sem se emocionar. Escrevo e já me debulho em lágrimas, ao me lembrar da história, baseada na trajetória de personagens que integraram a resistência – houve uma – ao nazi-facismo italiano. Falar mais seria cansar as palavras. Ou matar o filme. Vá e veja.

10/05/2008

Ranking dos bares

Sobe
Patorroto (Prado)

Tira-gosto: nota 7 (muito criativo o prato “aquarela brasileira”); atendimento: nota 7 (os garçons não se esforçam muito em ser simpáticos); banheiro: nota 6 (limpo e seco, graças a Deus). Ponto fraco: as mesas ficam na calçada e na rua, for God sake!
Bar do Doca (Gutierrez)
Tira-gosto: nota 8 (o torresmo estava duro); atendimento: nota 9 (o cara que verifica as mesas vagas é legal); banheiro: nota 7. Tem um boteco vizinho, muito bom também, com chorinho ao vivo e tudo mais.

09/05/2008

Vertov

De todos os visionários (re)inventores do cinema, um dos que mais gosto é Dziga Vertov. Na década de 20, lançou um manifesto atrás do outro, todos perpassados de inflamado espírito moderno. Quem não se lembra do "Cine-olho", que gerou a reação do Eisenstein, propondo o "Cine-punho"? Revolucionário engajado, Vertov pensava o cinema como um meio instituído da missão suprema de revelar a realidade. Detestava a ficção, considerando-a, como a igreja, mais um dos ópios do povo. Para Vertov, o documentário seria o gênero adequado para construir o novo homem socialista. Não foi muito levado a sério na época, mas hoje seu filme "Um homem com a câmera" está entre as melhores coisas que o cinema já produziu. (Depois transcrevo uns trechos do interessantíssimo "Manifesto dos Knoks".)

07/05/2008

05/05/2008

Sobe, com reservas

Charlotte (Santa Tereza)
Banheiro: nota 0 (não tem, é preciso ir ao do bar ao lado, que é um buraco aberto no subsolo); tira-gosto: nota: 1 (parece que a fritas - sic - tem queijo); atendimento: não me lembro, estava bêbado. Podia ser um pusta bar legal, considerando-se os (as) frequentadores (as). Sério incoveniente: as mesas ficam na calçada e na rua. Vai pra zona de rebaixamento, com chances de subir de posição durante o campeonato.

04/05/2008

O sonho de Cassandra

O sonho de Cassandra tem uma trama em certos pontos até previsível. Porém, o modo como Woody Allen conduz o filme é magistral. Num roteiro bem trabalhado, Allen lembra Billy Wilder em Pacto de sangue (1944), fazendo com que o espectador se identifique com os protagonistas e torça por eles quando se tornam assassinos. Alguém ainda encarna a ética, num mundo onde só parece haver corruptos: é o irônico pai, alter ego de Allen. A punição vem rápido, num desfecho nada trivial, na forma da auto-destruição dos personagens centrais. Allen está velho e cada vez mais corrosivo: por pouco, não se trata de um filme noir.

Ranking dos bares de BH

Sobe
Estabelecimento (Serra)
Banheiro: nota 5; atendimento: nota 10; tira-gosto: nota 10. A casa anda cheia devido ao Comida de Buteko, que lota demais o bar. Mas o ambiente, a decoração e os atendentes são muito simpáticos.
Chefe Túlio (Sagrada Família)
Banheiro: nota 7; atendimento: nota 6; tira-gosto: nota 8. É o ambiente mais agradável de Belo Horizonte, em plena Santa Tereza, numa esquina que lembra a de um bulevar parisiense.
Desce
Cartola (Caiçara)
Banheiro: nota 1; atendimento: nota 2; tira-gosto: nota 2. Tradicional reduto do samba, o Cartola fica lotado aos sábados. Porém a direção não investe em mais conforto para os clientes. Aqui, o negócio é dançar ou dançar.
Charles (Savassi)
Banheiro: nota 3 (só entra de canoa); atendimento: nota 3 (garçons mal-humorados); tira-gosto: nota 7 (o mexido é uma boa pedida). A música alta atrapalha quem gosta de uma boa conversa.
Western House (Centro)
Banheiro: não conferi; atendimento: nota 0; tira-gosto: nota 0 (fritas e boi picado, no one deserves!). Talvez o pior bar de Belo Horizonte: som alto, clientes bregas, decoração brega, música brega. Fuja correndo.

02/05/2008

Tem um colega fazendo o que considero o desafio supremo de um desenhista: ilustrar o Quixote. E em quadrinhos! É o Biradantas, companheiro da revista Front. Pelo que já vi dos desenhos, será uma obra-prima. E o estilo do Bira casou muito bem com a proposta, dando ao livro de Cervantes uma roupagem moderna e bem-humorada. Avante e parabéns, grande Bira! Confiram no blog dele: http://domquixotehq.blogspot.com/