29/12/2008

Responda depressa: é possível alguém que faça musculação em acintosas academias escrever algo que se apresente com o nome de literatura? Ou esse alguém é, a priori, um idiota?

Ciência bizarra

Os raios-x e as imagens em movimento foram inventadas à mesma época, no final do século dezenove. Assim como houve projeções de filmes em feiras, cafés-concerto, circos e vaudevilles, os raios-x costumavam ser exibidos nesses ambientes sob o mesmo slogan de "última maravilha da ciência". Nas demonstrações de raios-x, o público era convidado a ver as suas próprias vísceras, sendo grande a procura por esse tipo de atração. Levou algum tempo para descobrirem que a radiação do raio-x podia matar. O inventor do processo, por exemplo, morreu intoxicado, depois de levar a mulher à morte, de tanto tirar-lhe radiografias. Quantos não devem ter sucumbido também ao conferir esse passatempo inocente nas bizarras feiras do século dezenove.

26/12/2008

Anatomia do idiota

Um idiota se define pela sua roupa, pelo seu cabelo: a roupa dele é idiota, o cabelo dele é idiota. Meu vizinho, por exemplo. Deve estar na casa dos 50. Ontem, fez questão de envergar uma bermuda amarela, com motivos em preto, daquelas que terminam pelos joelhos. Era a imagem da idiotia, como a dizer: vejam, ganhei de Natal (esta coisa horrível). O cabelo, meio espetado, penteia para trás. Dá pra notar a tinta. Deve passar horas diante do espelho, a ver se lhe salva alguma qualidade física, pois as morais, perdeu-as todas. Trata-se de um delegado. Ignora o significado da palavra cidadania, com toda certeza. Se mal a conhece, é para resguardar seu “direito” de ser o imbecil que é. A estupidez dele me lembra a de meu ex-cunhado, talvez o maior idiota de que se tem notícia neste mundo de deus. Aquele pedaço d’asno guardava biscoitos e chocolates na geladeira e costumava xingar se alguém os comesse. Era meio gordo, feio como só um idiota consegue ser. Tinha uma verruga no nariz. O nome, Ricardo, também era próprio dos piores idiotas. A calça, sempre no pescoço, atada por um cinto. Camisas pólo, naturalmente. Ouvia muito um entulho musical dos anos 80, o Marillion (na burrice dele, considerava aquela ahn... bosta um "must"). E jogava futebol de salão, como todo bom idiota.

22/12/2008

O golpe final

Gênio é gênio. Capturei esta pérola do Saramago no blog do Massote. Leiam aí.
O golpe final
Dezembro 16, 2008 by José Saramago
O riso é imediato. Ver o presidente dos Estados Unidos a encolher-se atrás do microfone enquanto um sapato voa sobre a sua cabeça é um excelente exercício para os músculos da cara que comandam a gargalhada. Este homem, famoso pela sua abissal ignorância e pelos seus contínuos dislates linguísticos, fez-nos rir muitas vezes durante os últimos oito anos. Este homem, também famoso por outras razões menos atractivas, paranoico contumaz, deu-nos mil motivos para que o detestássemos, a ele e aos seus acólitos, cúmplices na falsidade e na intriga, mentes pervertidas que fizeram da política internacional uma farsa trágica e da simples dignidade o melhor alvo da irrisão absoluta. Em verdade, o mundo, apesar do desolador espectáculo que nos oferece todos os dias, não merecia um Bush. Tivemo-lo, sofrêmo-lo, a um ponto tal que a vitória de Barack Obama terá sido considerada por muita gente como uma espécie de justiça divina. Tardia como em geral a justiça o é, mas definitiva. Afinal, não era assim, faltava-nos o golpe final, faltavam-nos ainda aqueles sapatos que um jornalista da televisão iraquiana lançou à mentirosa e descarada fachada que tinha na sua frente e que podem ser entendidos de duas formas: ou que esses sapatos deveriam ter uns pés dentro e o alvo do golpe ser aquela parte arredondada do corpo onde as costas mudam de nome, ou então que Mutazem al Kaidi (fique o seu nome para a posteridade) terá encontrado a maneira mais contundente e eficaz de expressar o seu desprezo. Pelo ridículo. Um par de pontapés também não estaria mal, mas o ridículo é para sempre. Voto no ridículo.
Publicado em O Caderno de Saramago - blog do escritor

Sapateiros sem fronteiras

Está na hora de criar uma ONG. Não existe a organização anarquista "Confeiteiros sem fronteiras?" Com inspiração nesse modelo, poderia ser fundada a "Sapateiros sem fronteiras", para se atirar sapatos nos governantes que escorreguem no tomate. Pensando bem, acho que ia faltar sapato...

21/12/2008

Jamais, nunca, em hipótese alguma, confuda: literatura de auto-ajuda com literatura.

15/12/2008

12/12/2008

Homens e livros

Adoro sair de um bom livro e entrar em outro tão bom quanto. Terminei "A arte de viajar", um dos melhores que já li, e fui para "Conversas com Woody Allen", que poderia se chamar também "Tudo que você queria saber sobre Woody Allen mas tinha vergonha de perguntar". Extraio dali uma piadinha, contada pelo cineasta, muito elucidativa sobre a vida. O cara chega no psiquiatra e diz: "Doutor, meu irmão está maluco. Ele pensa que é uma galinha." O psiquiatra pergunta: "E por que você não o interna?" E o cara responde: "Porque preciso dos ovos!" É isso. A vida é cheia dessas galinhas. Seus ovos não costumam ser de ouro.

11/12/2008

Vicky Cristina Barcelona

Os filmes do Woody Allen são melhores do que uma boa sessão de psicanálise. Vicky Cristina Barcelona não foge a essa regra e envereda pelas antigas obsessões do cineasta, como as relações entre casais, sempre à beira do fracasso. trata-se de um filme na linha do "Manhattan", "Crimes e pecados" e "Maridos e esposas", na contramão da sua tendência bergmaniana, mais trágica. Eu vinha gostando de todos até aqui, principalmente dos últimos, mais afins com a tragédia do que com a comédia de costumes(destaque para O sonho de Cassandra, talvez o melhor de todos). Vicky Cristina Barcelona é um filme mais leve, mais feminino. O texto revela o mais puro Allen, com todos aqueles diálogos bem escritos, ultra-bem-humorados, meio rasos, mas sempre exemplares de uma certa instabilidade nas relações amorosas. A coisa toda funciona às maravilhas, a trama girando em torno de um quadrângulo amoroso, com aventuras sexuais impensáveis e pitadas de Miró, fotografia, poesia, vinho e pintura abstrata. Não é o the very best of mr. Woody Allen, com certeza, mas é dos grandes. Saí do cinema com a sensação de ter deitado no divã do Freud.

09/12/2008


















Special thanks: Woody Allen
Todo mundo deveria ter algo como um dublê, ou uma segunda vida, sei lá. Uma para ir ao cinema, ver todos os filmes do mundo, beijar as mulheres bonitas, ficar olhando as mudanças da natureza, outra para as coisas chatas, tipo cuidar da burocracia, trabalhar, fazer o orçamento, aprender a dirigir, perder tempo com discussões idiotas, etc. Ah, como seria bom!

06/12/2008

Vejam que da pesada. O vídeo é de um documentário pela paz. Confiram lá: http://www.youtube.com/watch?v=Us-TVg40ExM

04/12/2008

Inscrições para vaga de professor na Escola. A velha senhora:
- Eu sou das antigas. Você formou-se aqui também?
- Sim.
- Em que ano?
- Antes da batalha de Constantinopla. E a senhora?
- Ah, eu sou do tempo em que o Mar Morto ainda estava doente.
- O senhor é o síndico?
- Às vezes...
- E como é morar aqui?
- Olhe, o vizinho ali em frente certa vez quis dar um tiro no ex-morador deste apartamento só porque ele pediu para abaixar o som. De vez em quando, o cara faz um churrasco no quintal dele e a fumaça vem toda pra cá. O pessoal do treze também amola bastante com o som alto e barulhos de sexo. E tem uma vizinha pirada que costuma fazer uns escândalos. Ela arrancou sangue na mãe outro dia. Ah, tem um menino neurótico também, que vive chorando. Mas tirando isso, é um ótimo lugar.
- Anh... já vou indo então.
- Volte depois.
- Não, obrigada.

03/12/2008

Hilário!

Descobri no youtube um vídeo com o Bush cantando "Sunday bloody sunday". Vejam aqui: http://video.google.com/videoplay?docid=6805063692754011230

30/11/2008

O gênio, assim como o demônio, está nos detalhes. "Queime antes de ler" dá sequência à fieira de filmes brilhantes dos irmãos Cohen. Trata-se de uma comédia, como seria mesmo de bom alvitre, depois do realismo cru de "Onde os fracos não têm vez". Estão lá todos os elementos que fazem dos Cohen os melhores diretores hoje em atividade: humor, violência e tramas sinuosas, extremamente bem construídas. Nos detalhes (e isso é o melhor do filme), a crítica mordaz ao modus vivendi americano: uma mulher que quer fazer plástica e lipo, mas o plano de saúde não cobre. Um agente da CIA demitido por alcoolismo que não passa de um idiota (ele é traído pela mulher, que o trai também com um idiota da televisão. O homem que come a mulher do ex-agente da CIA, por sua vez, é um paranóico e viciado em sexo.) O Brad Pitt (finalmente os
Cohen tiveram dinheiro para contratar atores de primeira linha. É o efeito Oscar), imaginem só, é morto pelo cara que come a mulher do agente. (É sensacional matar o Brad Pitt, pensem bem. Nesse caso, ele tem de ser um personagem secundário, anódino, como de fato é, no filme). No final, tudo vira uma tremenda bagunça e a CIA se envolve para "limpar" a sujeira. E os caras da cúpula da CIA balançam a cabeça, falando: "Mas que porra foi que nós fizemos...", à semelhança do final de os "Os fracos não têm vez". É uma comédia sardônica, sem perdão. Merece ainda mais análises.

28/11/2008

27/11/2008

A vida não podia ser bela

É difícil um filme tão errado quanto "A vida é bela", do Roberto Begnini. Por mais que se tente dar um desconto (afinal trata-se de um comediante), nada ali parece fazer sentido: esconder um menino, em pleno campo de concentração? Impossível. Fazer piadinhas com soldados nazistas? Quer morrer, maluco? Onde, exatamente, localiza-se este campo de concentração? Na Alemanha? Na Itália? Se na Alemanha, então como é que tanques norte-americanos foram parar lá? (Seria mais correto se fossem tanques soviéticos). Uma garota, num campo nazista, sem os cabelos raspados? Está ali porque é mulher do diretor... E como é que a vida podia ser bela, em pleno campo de extermínio? Begnini, ator e diretor italiano, não conhece, não viu, os filmes italianos neo-realistas? Quosque tandem, Catilina?! O filme presta um mau serviço ao melhor entendimento da história da Segunda Guerra. Ainda bem que Begnini parou de abordar o assunto.

24/11/2008

Isto é Fassbinder

Fassbinder é um diretor originário do teatro. Por isso, seus planos são longos, a ênfase é para a performance dos atores. Não há paralelismos griffithianos, não há nada que lembre Hollywood. Movimentos de câmera belíssimos mostram um cinema de expressões pesadas, contrastes entre luz e sombra, luzes vagabundas de neons, reflexos de rostos sempre no limite do desespero. Franz Biberkopf continua sua saga pela República de Weimar, alguém que se vê obrigado a aceitar as condições que a vida lhe impõe, em face de um destino trágico. Em dado momento, perde o braço, bestamente, numa cilada armada por bandidos. É assim, sem braço, pobre, alcoólatra e ex-presidiário que enfrenta sua realidade, a realidade de um homem comum. Poderia ser um de nós...

23/11/2008

Berlin Alexanderplatz

Se gosto dessas mulheres desesperadas, desgrenhadas, à beira de um ataque de nervos? Se gosto desses homens estiolados, no limite entre a sanidade asséptica e a loucura como única forma de transitar por um mundo também insano? Se gosto dessa Alemanha expressionista, escura e claustrofóbica, lembrando uma tela de Max Beckman? Berlin Alexanderplatz: 16 horas de êxtase perturbador. Não consigo me identificar com Franz Biberkopf – protagonista do filme –, entretanto, que me parece mais um cidadão comum (naquilo que o cidadão comum também tem de idiota), em busca de inserção numa sociedade que aos poucos se desmorona, a Alemanha do entre-guerras. Ainda não terminei de ver o filme, estou no 6º de 12 episódios. Mais comentários daqui a pouco.

21/11/2008


O amor só é possível entre dois sadomasoquistas.

18/11/2008

17/11/2008

13/11/2008

Dias atrás, sonhei que retalhava um cara, com muita ciência e dedicação. Outra noite, sonhei que estava no centro, pessoas dormiam na calçada, em meio à sujeira, à urina e às fezes. Já ontem, sonhei com mulheres incríveis na minha cama, entre as minhas pernas. Estranho, muito estranho.

11/11/2008

Grande hotel

O roteiro é conhecido: vêm, hospedam-se em sua cabeça, deitam-se em seu corpo, esbaldam-se em seus lençóis. Passado algum tempo, reclamam da mobília, do serviço de quarto, da comida, da decoração do teto, até chegarem ao seu físico de atleta. Pronto: de hotel 5 estrelas, foi reduzido a uma espelunca. Daí se mudam porque queriam um quatro quartos, com vista definitiva, de preferência para o mar. Mas continuam morando de aluguel...

Auto-retrato em meio aos trastes




02/11/2008

Culinária e automobilismo

Fui almoçar feijão tropeiro num boteco aqui perto. Perguntei ao garçom: "Vem com ovo?". Ao que ele ripostou: "Vem completo, com ovo, trava elétrica, holofote traseiro, ar condicionado..." A metáfora não era exatamente persuasiva para quem, como eu, nem ao menos sabe dirigir. Além do mais, se o tropeiro fosse um carro, seria certamente um Fiat 147. Mas valeu pela criatividade do sujeito.

Mais frases para desanuviar (*)

No Brasil, o gene da honestidade é recessivo.

Jamais confunda: natureza-morta com despacho de macumba.

Bebia tanto que não fazia exame de sangue: media o teor alcoólico.

Era um escritor muito pouco original. Sua única grande obra foi um livro de citações.

A fisicultura é a burocracia do corpo.

O dinheiro é o Viagra do intelecto.

Era tão precoce que aos 16 já vivia a crise dos quarenta.

*Estas frases são do final dos anos 90. Junto com outras tantas (pelo menos umas 40), estavam num arquivo que a minha ex-mulher entendeu de deletar sei lá porquê.

01/11/2008

Joy Division

Vamos combinar: eu gosto de rock’n’roll, fazer o quê? Fui ver “Joy Division”, um documentário sobre este grupo de finais dos anos 70 e início dos 80. O diretor mescla a trajetória da banda à história da cidade de Manchester, bombardeada na II Guerra e hoje uma grande e moderna, no bom sentido, cidade inglesa. Há imagens poderosas, como fotografias de como era Manchester nos anos 70: construções horríveis, à maneira de enormes hospitais ou sanatórios dominavam a paisagem. Muitas fábricas, pessoas criadas para não serem mais que operários, degradação: exatamente o cenário vazio de sentido descrito nas letras de Ian Curtis, poeta tresloucado, para lá de deprê e vocalista do Joy Division. Há entrevistas com os outros três membros da banda, com as ex do Ian Curtis e com os criadores da sonoridade industrial dos caras (engenheiros de som, produtores, etc.). Deborah Curtis é um show à parte: linda ainda hoje e inteligente. Foi depois de uma briga com ela e depois de ter visto o filme “Strozeck”, de Werner Herzog, que Ian Curtis deu cabo da própria vida. O filme, em suma, é uma ótima viagem no tempo, de volta ao espírito dos oitenta, dark, pesadão, sufocante, super fim de século. Ouvi as canções do Joy Division, no rádio, somente no final dos anos 80. Naquela época já carregava pra cima e pra baixo um livro de capa totalmente branca, sem título, com as letras do Ian Curtis. Nada muito genial, o filme é somente mais um documentário sobre banda, como há muitos por aí. O detalhe é que foi uma das melhores bandas de todos os tempos. Valeu o ingresso.

30/10/2008

Frases para desanuviar

Em política, é preciso separar o joio do germe de trigo.

Muitas vezes, a expressão caríssimo amigo deve ser tomada rigorosamente ao pé da letra.

É incrível que certos casamentos se celebrem sob um juiz de paz.

Jamais confunda: livreiro com intelectual.

Marido: ente sobre o qual recaem todas as culpas dos erros que a mulher faz.

28/10/2008

A perfect day

Eu hoje suportei bem o fato de que tudo está definitivamente perdido. Não dei a mínima para ódios e mágoas antigas, justificados ou não, passei ao largo do mau humor compenetrado de chefes e colegas de trabalho, ignorei impávido a ação inclemente do tempo no meu corpo. Saudei e fui saudado por muitos, nem liguei para travos e amarguras, tive um não sei quê de serenidade com os outros, transitei com estoicismo único até por ex-mulheres com as quais cruzei eventualmente pelo caminho, à forma de um trem desgovernado. Rebobinei secretamente antigos planos-sequência da minha vida, entendi muita coisa e desejei até felicidade a todas as figuras muito sacanas que habitam os sete quartos desta memória. Nem mesmo tive ou tenho vontade de dizer meia-dúzia de verdades, como é do meu feitio: chega, basta, vão todos para o diabo. Sublimei inclusive o calor miserável que está fazendo. Não fumei, não bebi, não cheirei, tampouco deitei-me com aquela beldade. É um dia desastrosamente perfeito. E vou indo incrivelmente bem, obrigado.

27/10/2008

O dia em que eu festejei o fim do mundo

Romênia sob Ceausescu, 1989: menina torna-se mulher, à proporção que o regime soviético se esboroa. É tamanha a ingerência do estado romeno na vida dos cidadãos que até a vida sexual da moça é monitorada. Happy ending: Ceausescu cai, a população festeja nas ruas e a moça é finalmente desvirginada, pelo filho de um policial, recém-convertido à luta popular. Passável: o cinema do Leste europeu já foi melhor.

Máximas machistas

Muitas vezes, a distância entre a santa e a vagabunda é um simples copo de cerveja.

23/10/2008

"Love is a bed full of blues": frase pinçada da música "I got the blues", dos Stones. Yeah.

20/10/2008

Quanto mais eu ouço Beatles, mais eu gosto dos Stones.

Soul survivor dos Stones: esta letra é ótima

When the waters is rough / The sailing is tough, / I'll get drowned in your love. / You've got a cut throat crew, / I'm gonna sink under you, / I got the bell bottom blues, / It's gonna be the death of me. / It's the graveyard watch, / Running right on the rocks, / I've taken all of the knocks. / You ain't giving me no quarter. / I'd rather drink sea water, / I wish I'd never had brought you, / It's gonna be the death of me.
When you're flying your flags / All my confidence sags, / You got me packing my bags. / I'll stowaway at sea, / You make me mutiny, / Where you are I won't be, / You're gonna be the death of me.
Estou lendo um livro impressionante: Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945. Tony Judt, historiador na linha do Hobsbawn diz, entre outras coisas, o seguinte sobre a Segunda Guerra: “Conflito algum registrado pela História matou tanta gente em tão pouco tempo” (...) “Estima-se que cerca de 36,5 milhões de europeus sucumbiu, entre 1939 e 1945, de causas relacionadas com a guerra (o que equivale à totalidade da população da França quando o conflito explodiu).” Mais: "No Leste e Sudeste Europeu, as forças de ocupação alemãs foram impiedosas, e não apenas porque a resistência local – na Grécia, na Iugoslávia e na Ucrânia, especialmente – travava contra elas uma batalha tão incansável quanto inútil. No Leste Europeu, as conseqüências materiais da ocupação alemã, do avanço soviético e da ação da resistência foram, portanto, de ordem bastante diversa em relação à experiência da guerra no Ocidente. Na União Soviética, 70 mil vilarejos e 1.700 cidades de pequeno porte foram destruídos durante a guerra, além de 32 mil fábricas e 64 mil quilômetros de ferrovias...” E Judt continua sua contabilidade sangrenta enumerando os prejuízos na Grécia, na Iugoslávia e na Polônia. São números assustadores. É...o diabo não tira férias.

19/10/2008

Vá e veja

A participação da ex-União Soviética na II Guerra Mundial foi de importância decisiva para a derrota de Hitler. O país localiza-se ali, bem ao lado da Europa do leste, portanto, muito mais vulnerável aos ataques das tropas germânicas do que os Estados Unidos, por exemplo, que só entraram na guerra em 1942. Ao cabo do conflito, somente na região da Bielo-Rússia, houve 638 aldeias queimadas pelos nazistas. Na contabilidade final dos prejuízos, a ex-União Soviética teve um número incontável de mortos, principalmente entre os homens, além dos prejuízos materiais. "Vá e veja" (Elem Klimov, 1985) mostra, com tintas de um realismo cru, um pouco do que foi a atuação do exército soviético nessa guerra. A situação do país é focalizada pelo ponto de vista de um garoto, recrutado como soldado ainda muito novo, num pequeno vilarejo. Na trajetória errática do garoto, momentos que ilustram a extrema dificuldade das tropas soviéticas, pobres, mal equipadas e dominadas por um terrível rigor. Ao final do filme, percebe-se que o garoto perdeu a infância, e, passado pouco tempo de sua entrada para o exército, ostenta a expressão de um homem de 70 anos. Morando às barbas de Hitler, a União Soviética, na figura de Stálin, lançou à morte boa parte de sua população masculina, a fim de solucionar um conflito de enormes proporções. E até hoje há quem pense que foram os Estados Unidos, sozinhos, que venceram aquela guerra. Roberto Begnini que 0 diga.

18/10/2008


Sinal dos tempos: a pseudo-esquerda agora age com os mesmos instrumentos da direita.
Intimaram o colega prof. Massote por manifestar suas opiniões políticas na internet. A partir de agora, não comento mais nada sobre o cenário local no meu blog. Sorry, leitores. Quem tem c. tem medo, o seguro morreu de velho. Política não é brincadeira, eu sempre soube disso, desde que fui demitido de um jornal por causa de umas charges sobre o Bill Clinton na época da Mônica Lewinsky, lembram? Vou ficar quietinho aqui, dois passos avante, um passo à retaguarda, já dizia o Lênin. Segurem aí.

16/10/2008

14/10/2008

Máxima machista

Não importa o tamanho do pênis, mas o tamanho da conta bancária.

09/10/2008

Queimem os sutiãs!

Minha vizinha é antropóloga e dá aula na UFMG. Contei a ela sobre o crime bárbaro narrado aí embaixo. Ela ficou de comunicar-se com alguém da FAFICH, do núcleo de estudos sobre a mulher, para organizarem um protesto contra as cada vez mais recorrentes agressões às mulheres por estas plagas. Bem, o Brasil não é a Noruega, ainda chafurda no atraso em relação à questão feminina. Não faltam exemplos de machismo e desrespeito; todo mundo tem um caso pra contar. O feminismo, aqui, precisa urgentemente voltar a ser uma bandeira política. 40 anos depois do maio de 68, a mulher brasileira tem de voltar a queimar sutiã. O pior é que elas não querem!...

Quando voam as cegonhas

"Soy Cuba" (Mikhail Kalatozov, 1963) está incluído, para mim, entre os cinquenta melhores filmes de todos os tempos. Acrescento outro do Kalatozov à minha lista: "Quando voam as cegonhas" (União Soviética, 1957). Stálin morrera em 1953, e ares de liberdade começaram a soprar sobre o império soviético - ao menos no que dizia respeito ao cinema. Há uma retomada de experimentações do construtuivismo russo pós-revolução, condenadas ao opróbrio pela censura stalinista, que considerava "formalismo" tudo que fugisse à estética do realismo socialista. O novo cinema soviético então atravessava a fronteira e despontava nos festivais europeus. "Quando voam as cegonhas", por exemplo, ganha o festival de Cannes daquele ano, mostrando uma história de amor durante a II Guerra Mundial, tendo a Rússia como cenário: rapaz separa-se de namorada para lutar na guerra e acaba morrendo nas frentes de batalha. O filme é narrado com extrema competência, em planos belíssimos, nos quais a câmera tem um participação fundamental, ao procurar as melhores angulações, posições e movimentos. A fotografia é impecável, fazendo opção por um preto-e-branco mais contrastado, mas ainda com muitas nuances de cinza. Os planos-sequência são lindos e lembram os de "Soy Cuba". Ecos desse tipo de cinematografia (fundada no plano-sequência) podem ser ouvidos ainda hoje, por exemplo, em "Arca russa" (Sokurov, 2002).
Quinta-feira as pessoas se vestem rigorosamente mal. A semana termina e você acaba usando a primeira roupa que pinta. A idéia é acabar com tudo isso e chegar logo ao fim de semana. Pra recomeçar tudo na segunda-feira...

08/10/2008

Segundo apurei, a facada na jugular foi premeditada. O monstro chegou a dizer aos colegas, durante o almoço, que ia "fazer uma besteira", porque não suportava ficar longe da mulher e das crianças - ninguém acreditou. Fez o que fez diante dos pequenos e se entregou, logo em seguida. O outro é o maior dos mistérios.

06/10/2008

Vez por outra, redijo notas de falecimento no boletim em que trabalho. O atestado era claro: "no dia tal, em hora ignorada, em consequência de hemorragia externa e ferida cortante, no domicílio à rua tal...". 27 anos, as facadas foram de um marido traído. Conheci a menina, vi-a há coisa de uma semana: gente fina, vendia bombons de morango, de licor e de uva (comprei muitos na mão dela). Fiquei chocado com a notícia.

03/10/2008

Ensaio sobre a cegueira

Em seu novo filme, "Ensaio sobre a cegueira", Fernando Meirelles erra na mão. Tem algo de fundamentalmente impróprio ali. A estética de Meirelles ficou muito associada ao realismo, e, quando ele envereda por uma narrativa tão fantasiosa quanto é a do livro do Saramago, parece inadequada, fora de lugar. Não dá, a ficção algo surreal de Ensaio sobre a cegueira (o livro) pede estilização. As tomadas com câmera tremida de Meirelles estão presas à estética convencionalmente ligada ao realismo documental e simplesmente não funcionam se o assunto é a bizarra distopia criada pelo escritor português. Sei lá, quando li o livro (não todo), imaginei a coisa em preto e branco, ou, de outra forma, com cenários à semelhança dos de Terry Gilliam em "Brazil, o filme". Mas Meirelles pode se recuperar no próximo filme, ele é bom e tem talento pra isso. Isso se ele voltar pro realismo, que é a sua praia.

02/10/2008

O que é cinema?

Frase pinçada de um documentário sobre os primórdios de Hollywood: "Cinema é o único negócio pelo qual você paga antes de conhecer a mercadoria."

28/09/2008

Casa de ferreiro, espeto de pau?

Quem diria, os Estados Unidos, berço do Consenso de Washington, lançando um pacote econômico. Resta saber se vão receitar isso também para os países que eventualmente sucumbirem à crise.

Cinema, radiografias e Méliès

Recentemente fui acometido de um ataque de pedra nos rins. Em meio à dor excruciante causada pela pedra atravessando meu ureter, fui submetido, no hospital, a uma bateria infindável de exames. Além das rotineiras análises de sangue e de urina, dá-lhe raios-x, tomografias e ultra-sons. Exames de natureza endoscópica como esses descendem de um ancestral comum: as radiografias, que, por sua vez, têm raízes na velha vontade humana de tudo ver, de devorar o mundo com um insaciável olhar voyeur. Se as radiografias tiveram sua gênese à mesma altura que o cinema e provêm da mesma pulsão escópica que alimentava as "moving pictures", seus objetivos eram algo diferentes. O cinema dos Lumiére, por exemplo, queria registrar o que havia lá fora, nos mais distantes rincões do planeta. Já a radiografia queria ver o que havia dentro, nas mais remotas e sinistras paisagens do interior humano. Talvez pela diferença entre seus objetos de estudo, as duas “mídias” tiveram caminhos díspares. O cinema percebeu que se continuasse a serviço da realidade “científica” dos Lumière rapidamente iria sucumbir. Graças a Méliès, descobriu que podia se libertar das vistas lumierianas e seguiu sua vocação de servir ao maravilhoso, como, bem ou mal, faz até os dias de hoje. Já os raios-x continuaram escravos da objetividade. E não há nada mais assustador do que uma radiografia, assim como boa parte dos métodos médicos. Lembro-me das palavras e do prazer orgástico do urologista ao analisar um raio-x da minha barriga: “aqui não podemos ver a pedra, porque ela deve estar atrás do material e dos gases intestinais. Podemos enfiar um tubo pela sua uretra e destruir a pedra, etc, etc.”. Temendo pelo meu aparelho urinário, eu não via nada naquelas radiografias além de um monte indistinto de manchas. Mas o olho treinado do médico descobria coisas insuspeitadas: era como um vidente, consultando seus búzios. Fato é que o olhar técnico dos médicos acostumou-se aos desenhos fantasmagóricos das radiografias, e até consegue ver beleza naquilo, a mesma beleza que um matemático entrevê, por exemplo, numa equação complexa. Mas, como os desenhos de anatomia de Vesalius e dos mestres renascentistas, os raios-x têm, para mim, o mesmo interesse que é despertado quando se está diante do feio, do horrível: o feio atrai e tem algo de erótico. É parte daquilo que se pode descobrir, em se vivendo no mundo, afinal, e Thomas Edison sacou isso ao filmar a eletrocução de um elefante, em 1900: ele queria alimentar o apetite das massas pelo bizarro. Ou talvez ele tivesse um puta mau gosto mesmo. Seja como for, não se pode viver de feiúra, porém não há como ficar sem beleza, como intuiu o gênio Méliès, ao direcionar o seu cinema para a narrativa fabular. Dito de outra forma, não há nada que me faça achar radiografias, ultra-sons e tomografias simpáticas, exceto pelo que têm de estranho, muito estranho.

04/09/2008

Georges Méliès

O que dizer ainda de Méliès? Que, à estréia do cinematógrafo Lumière em Paris, era, já então, um bem-sucedido diretor de teatro? Que superou em maestria o grande Robert-Houdin, fundador da mágica moderna? Que fez de sua arte um híbrido entre cinema, mágica e teatro, num momento em que esses limites não estavam exatamente definidos (graças a Deus)? Que antecipou muitas das trucagens do cinema de animação? Que deu origem a um sem-número de seguidores? Que é o grande mentor dos efeitos especiais no cinema? Em seu apego às regras do teatro de variedades, numa altura em que não se sabia o que o cinema deveria ser, Méliès construiu uma obra fundada no artifício, uma obra cuja indiferença aos ditames do realismo (ali ainda nos cueiros) atravessa os séculos com um extraordinário sabor de novidade. Ver Méliès é como ver cinema pela primeira vez, sobretudo nos dias de hoje, em que esta mídia tornou-se algo tão monolítico, tão aferrado à narrativa linear. É sempre bom voltar ao velho mágico, para se conferir outra hipótese de fazer cinema, mais visceral, mais artística, mais heteróclita. Méliès rules.

03/09/2008

No time

Desculpem, companheiros de jornadas virtuais. Estou até aqui de compromissos e sem tempo de postar neste blog. Em breve devo colocar alguma coisa aqui sobre o grande Georges Méliès. Aguardem!

06/08/2008


Nilson Azevêdo

Minha homenagem ao grande Nilson, cartunista das antigas. É um cara realmente de esquerda, não deixa a peteca cair. Figuraça.

04/08/2008

Desenvolver uma pesquisa, escrever um livro, é um ato que demanda a solidão dos loucos. Nessa caminhada em busca de dar ordem ao caos, de organizar o infinitamente inorganizável, desbrava-se um território inexplorado, tendo por companhia unicamente textos de outros autores e o seu próprio. Fala-se sozinho, conversa-se com a morte*, constrói-se, a golpes de frases exaustivamente escavadas na pedra do desconhecimento, algo que ainda não existe, algo que espera por tomar a forma da escritura. Ao louco mistura-se o demiurgo: o homem que escreve é um deus enlouquecido, possuído pela idéia de dar forma e sentido ao mundo, de tentar controlar o universo. Muitos enlouquecem de vez nessa jornada. Tenho medo que eu seja um deles.
*Escrever sobre o passado é falar com a morte.

31/07/2008

Papo escatológico-acadêmico

Eu e meu amigo Tuca Maia (recém-doutor) engatávamos um papo acadêmico. Conversa vai, conversa vem, um cara da graduação entrou atirando: "Já ouvi muito doutor falando merda." Eu e o Tuca não perdemos a fleuma: "É, colega, mas a merda dita por um doutor é sempre uma merda dita com muita propriedade. Não se trata, portanto, de merda, mas de massa fecal." Pano rápido.

Lula como Padim Ciço

O Massote continua pegando no pé do Lula....

28/07/2008

Livro do chá

Trecho do “Livro do chá”, do escritor japonês Kakuso Okakura: “Os incapazes de sentir em si mesmos a pequenez das coisas grandiosas tendem a ignorar nos outros a grandiosidade das pequenas coisas”. Fonte: Folha, de sábado.

25/07/2008

Lula na pele de Jânio

O Lula tá cada vez mais parecido com o Jânio Quadros, pelo menos é o que o Massote anda dizendo em suas análises políticas. Assino embaixo.

Notas de um consumidor flâner

Estava às voltas com um celular pouco falante. Depois de um périplo para descobrir o defeito, vou ao shopping popular Tupinambás, atrás de um certo “Pronto-socorro do celular”. Andar por esses corredores estreitos é como percorrer uma instalação sobre o apocalipse, a antevéspera do caos, a ante-sala do inferno. Em sociedades barrocas, como a nossa, o cenário chega a ser comum: sobrecarregam todos os espaços possíveis e imagináveis de adereços e acessórios inúteis: trata-se, com efeito, de um objetivo mais estético do que pragmático. A estética da carnavalização, diria Oliverio Sarduy. Mas também há um aspecto trágico por detrás de todo esse excesso, esse acúmulo de plumas, paetês, quinquilharias eletrônicas, dvds pirateados, tralhas domésticas e badulaques em geral a adornar os inúmeros balcões daquelas prateleiras e barracas: as pessoas ali parecem já ter passado por poucas e boas, trilhado caminhos acidentados, minados por toda sorte de adversidades. A acumulação exasperada de itens supérfluos, perfunctórios, procura esconder aquilo que não se quer deixar ver. Lê-se perfeitamente nos olhos daquelas pessoas, porém, a vida esfrangalhada que levam. Ainda que, naquele exato momento, experimentem um efêmero orgasmo com o que chamam eufemicamente de seu “próprio negócio”.
Shoppings populares: eis a contravenção consentida, institucionalizada, e, por isso, todo cuidado é pouco. O cara que vai consertar o celular pode ser um trambiqueiro, de olho no chip novo do aparelho, o qual pode retirar, à socapa, e revender por preço melhor, colocando um outro, velho e gasto, no lugar. Na certa ele já o fez, sem que eu percebesse. Faço-me de bobo e aceito suas explicações estrambólicas, como alguém inferior, estúpido diante da sua fina erudição, hábil em não flexionar os verbos no plural. Saio dali iludido, ingenuamente feliz. À primeira verificação, porém, o aparelho já não funciona. Dirijo-me agora a outro shopping, este mais middle class, na tentativa de solucionar o problema. Consulto uma segunda opinião, no stand da operadora, e deparo com a burrice ministrada com extrema arrogância de atendentes despreparados para informar o óbvio. Só os muito sagazes enxergam o óbvio, claro. Para vê-lo, é preciso indagar-se, perguntar, duvidar exaustivamente. E alguém ali estaria preparado para tal e tanto? A melhor reposta que se encontra no parco repertório que lhes é dado repetir será um sorriso idiota no rosto e a presunção de quem acha que entender da propositalmente complexa logística das operadoras de celulares é não mais que uma obrigação. Não obstante, aceito com muita educação ser enganado e ainda compro dois cartões pré-pagos, que na certa nunca irei utilizar. É assim. Deve ser assim, é o que dizem.
Tomo um táxi e estou agora numa clínica, para um exame de ressonância magnética no joelho esquerdo. A enfermeira pede-me para tirar a roupa e colocar um avental. Sinto frio nos pés e reclamo da demora. Peço também para que não examinem meu útero, pois não apresento sinais de gravidez. Zangada, a moça responde que não atendem quando a menstruação atrasa. Dou-lhe razão e, algum tempo depois, sou levado para o estranho tubo. Pergunto se a máquina provoca ereções ou, no limite, impotência, e os enfermeiros não demonstram muito senso de humor. Este é um ambiente asséptico, clean, inútil insistir em qualquer coisa que devolva autômatos à condição humana. Médicos, atendentes e enfermeiros dão sempre respostas calculadas, pensadas para não incomodar. Sou colocado no tubo: a coisa faz um barulho infernal, semelhante ao de uma máquina de lavar roupa, com você girando lá dentro. Os enfermeiros o observam detrás de um vidro, como numa sala de interrogatório da PM. Se você mexe a perna, eles gritam num alto-falante: "favor permanecer imóvel". Terminada a sessão, o enfermeiro pergunta “que tal?”. Eu digo que prefiro bossa nova, não curto muito o techno. O rapaz sequer responde. Tenho tempo de ouvir a outra enfermeira, ainda irritada: “vou sair, para não estressar.”

19/07/2008

Este é o desenho da capa


De "A história pela metade", livro do prof. Massote


O livro "A história pela metade", do prof. Massote, já está na terceira edição. Desta vez, tem três ilustrações a mais, que apresento aqui, em primeira mão.


16/07/2008

Ao amigo

Paulo

Saulo

Barbosa

barba

rosa

preta

de nankim...

esbranquiçada

do papel AP

fazendo arte

em sua prancheta

social...

Poema do Diógenes Miquelão Aquino, amigo da UFMG, feito para este blogueiro. Obrigado, sábio filósofo!

02/07/2008




Tribulações de um síndico

O sujeito bateu à minha porta com uma intimação para o morador do 15. Sinistro, procurou extrair uma série de informações desnecessárias, como os horários do condômino no prédio, sua vida cotidiana, seu emprego, seus hábitos. Só faltou pedir o nome dos pais e dos familiares. Percebi que o cara, um policial civil, estava indo além de suas atribuições e disse a ele não poder dar mais informações do que o previsto na Constituição. Ele então parou com as perguntas, admitindo inclusive estar fora do horário permitido por lei para entrar na casa dos outros. A forma intimidatória que utilizou para me abordar dentro de minha própria casa, contudo, lembrou o passado militar brasileiro, de tão triste memória. O fato, somado a situações recentes, como o caso da favela da Providência no Rio, a invasão da PM na UFMG agredindo estudantes, as ações (ir)regulares da polícia no dia-a-dia contra jovens e crianças pobres nas periferias, leva à constatação de que o cadáver da ditadura segue insepulto entre nós, gerando toda sorte de malefícios. Se não reagirmos a tempo, daqui a uns dias estaremos habitando o pesadelo kafkiano de "O processo" sem saber porquê.

30/06/2008


Ouvi dizer que a Ivete Sangalo vai "cantar" no Central Park. O Brasil devia pensar duas vezes antes de declarar guerra aos Estados Unidos.

27/06/2008

Essa é velha mas é boa. Ré ré ré.
Frase do Roni: se os homens são todos iguais, por que elas escolhem tanto?

25/06/2008

Putz... esqueci de assinar...

Dona Ruth

Chargeei a D. Ruth milhares de vezes. Mas sempre a desenhei como uma espécie de grilo falante do FHC, mais honesta e mais inteligente. Admirava muito a sua figura, à prova de imposturas e empulhações. Vai-se uma grande brasileira.

Códices

Assim como hoje trocam-se filmes, antigamente trocavam-se livros. Embora tenha passado cerca de dois terços da minha vida no cubo escuro de um cinema, confesso que prefiro trocar livros, com os quais tenho uma relação profundamente erótica. Gosto de cheirá-los (sobretudo quando novos), acariciar suas capas, perceber a singularidade de sua tipografia. Observo com interesse a ação do tempo sobre páginas tornadas gastas pelos sucessivos olhos que ali transitaram, os colofões, os ex-libris, as dedicatórias infames, as anotações de eventuais leitores. Alguns livros nem mesmo é necessário ler: ficam virgens na estante até serem absorvidos por osmose, conforme ensina Eco. E quando chego ao cabo de um dos bons, já quero voltar a ele, passear novamente pelas veredas por onde me levou. Não que eu não troque filmes, gosto disso também. Mas dvds emprestados ficam parados, presos em feias caixas de plástico, até que um dia eu tenha tempo e paciência de libertá-los. Não há o toque macio dos livros, não há osmose: é preciso disciplina para receber a imensa carga de informações que um filme traz. E sem o adjutório do texto impresso fica ainda mais difícil, ao menos para mim, assisti-lo do modo mais adequado. Longa vida ao velho códex!

24/06/2008

Rawet

Já leu Samuel Rawet, baby? Então faça o favor de ler. É talvez o melhor escritor brasileiro da segunda metade do século vinte. Estou às voltas com seus contos e novelas, amargos como quê. Morava só, era meio maluco e foi encontrado morto em sua casa - provavelmente se suicidou. Estrangeiro radicado no Brasil, seu texto é a voz do exilado numa terra de ninguém.

Recomeço

Recomeça...
Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto
queiras só metade.
Miguel Torga
(Este bom poeta português foi um perseguido de Salazar. Na parede de uma igreja, no ponto mais alto do D'Ouro - o nome da localidade é São Gonçalo da Galafura -, tem um poema dele, escrito em azulejos azuis. "Oração ao rabelo", se não me falta a memória.

Outra página de hq

Esta história me deu muitas alegrias. Com ela, ganhei um prêmio no Salão Carioca e fiquei hospedado durante uma semana num hotel de luxo em Ipanema. Noto agora que, no primeiro quadrinho, tem uma vírgula sobrando. Ainda bem que ninguém viu.

Página de hq

Fiz esta história para a revista Front, baseado na trajetória e nos textos do "Condicionado", um mendigo escritor de São Paulo. Alguém tem notícia dele? Será que ainda vive? E no mesmo lugar (um canteiro entre duas avenidas de um bairro chique de Sampa)?

22/06/2008

Elas

Mulheres são boas quando loquazes. Falantes, elas despem-se, desnudam-se diante de nossos olhos incrédulos. Mudas, estão a tramar alguma coisa, e podem desestabilizar o universo com um simples movimento dos lábios. Todo homem de juízo deve rezar sempre: Senhor, livrai-me da mulher calada, amém!

19/06/2008

Espetáculo degradante

Engana-se quem ainda pensa que futebol é o esporte das massas. O espetáculo degradante em que se tornou o recente Brasil x Argentina provou o quanto essa noção está definitivamente mudada. No Mineirão, ontem, não havia lugar para pobres: nas arquibancadas, somente a bourgoisie mineira deu as caras. Tudo não passou de um show (de extremo mau gosto, diga-se) feito para as câmeras, com direito à presença de ricos e famosos, como o governador Aécio Neves, ídolos do esporte e artistas globais. Esperto, Neves viu no clássico a oportunidade de se auto-promover nacionalmente, motivo pelo qual gastou os tubos com a reforma do estádio e com um aparato de segurança no mínimo desnecessário. O movimento para riscar o povo sumariamente desse programa ruim começou já no preço dos ingressos: o mais barato, na geral, era R$30,00. Por mais fanático por futebol, que assalariado vai ter 30 paus para gastar com um lazer tão caro? O resultado, política e moralmente lamentáveis, parece ser fruto da tendência midiática atual de sempre fazer vista grossa às nossas eternas mazelas.* Só faltou a arquibancada, em vez de vaiar, balançar as jóias pedindo a cabeça do Dunga.
*O Brasil já foi menos cínico: que saudade de Joaquim Pedro de Andrade, com o seu Garrincha, alegria do povo! Que saudade de Glauber! Que saudade dos diretores cinemanovistas!

18/06/2008

Ziggy Stardust

Ninguém me disse, tampouco li em semanários de rock, mas o clássico Ziggy Stadurst, do David Bowie, foi muito provavelmente inspirado na figura do Iggy Pop. Descobri por acaso, assistindo a um vídeo dos anos 1970, no qual o iguana entrevista-se para uma TV francesa. No vídeo, Iggy Pop mostra a...ãnh....bunda acintosamente para as câmeras. Para além da evidente homonímia Ziggy/Iggy, um dos versos da música de Bowie diz: Ziggy played for time, jiving us that we were vodoo/and kids were just crash/he was the nazz, with a god given ass. Como se sabe, o Iggy Pop tem um traseiro substantivo e o disco do Bowie é exatamente do período em que o maluco inventor do punk estava bombando e despirocando geral. Naquela época, Bowie costumava cantar covers do iguana e do Lou Reed: tirou os dois do oblívio, para a sorte e saúde do velho e bom rock’n’roll. But boy could he play guitar...

13/06/2008

Mais Iggy Pop, I wanna be your dog: http://www.youtube.com/watch?v=IbLRf0j80wU&feature=related

Iggy Pop

Se você, como eu, adora o Iggy Pop, não pode perder isto: o cara, ao vivo, nos anos 70, com os Stooges, mandando ver The passenger!! Yeahhh!!
http://www.youtube.com/watch?v=y4hPnZUMBwA&feature=related