28/11/2009


Lançamento do álbum em quadrinhos do meu amigo Luciano Irrthum. Livraria Café com Letras, dia 5 dezembro, às 13h30. Todo mundo lá.

22/11/2009

Lula, o filho do Brasil

De Lula, o filho do Brasil, por enquanto, só conheço o trailer. Mas é o suficiente para emitir um juízo dificilmente alterável: não vi e não gostei. Já no trailer, percebem-se, em profusão, os elementos que costumam tornar a mistura entre interesses de estado e produção fílmica um fracasso ético e estético: o roteiro recebeu as tintas do épico lacrimogêneo, fundado na matriz narrativa do menino pobre, representante dos destinos de uma nação, em luta contra as adversidades da vida; a fotografia é ufanista, de cartão-postal, seguindo o (já velho) padrão global (também os atores repetem o star-system da Globo); a música é feita sob medida para causar a comoção que alguns, entretanto, dizem não ter sentido. Finalmente, a estratégia discursiva do filme centra esforços em fazer da trajetória redentora de Lula um símbolo insofismável da trajetória de todo cidadão brasileiro, operação ideológica que inspira a mais profunda desconfiança.
Às portas da sucessão de 2010, eis os traços dominantes de uma surpreendente tentativa de transformar um filme em instrumento da mais deslavada campanha eleitoral. Não menciono aqui os meandros que cercam o financiamento desta produção, de que se fizeram inéditas 500 cópias em película, com distribuição prevista para todo o Brasil. Sobre isso, diga-se, apenas, que “nunca antes na história deste país” um filme obteve tantos patrocinadores em tão pouco tempo. Fico nos aspectos estéticos, suficientes para fazer suspeitar do início de uma simbiose digna dos piores momentos da intervenção direta do estado na criação cinematográfica. Orientado para arrancar lágrimas das platéias e doutrinar a multidão de párias, Lula, o filho do Brasil é estética e politicamente um filme ocioso, fadado a ocupar lugar de destaque no museu de curiosidades bizarras de nossa história, como se já não as houvesse em número bastante.
Na semana que vem, a película dos Barreto ganhará as telas de todo o Brasil. Preparem-se para o vendaval de propaganda de que se fará acompanhar esta estréia. Não faltará pompa e circunstância para incensar diretores, atores e produtores, como se tivesse início, mais uma vez, a tão aguardada – e jamais realizada – retomada do nosso cinema. A todas essas, Glauber Rocha, o nosso maior diretor, deve estar se revirando na tumba. Fosse vivo, talvez dissesse, sobre Lula, o filho do Brasil: – Graças aos denodados esforços da máquina estatal, a demagogia política finalmente se implanta e se consagra na história do cinema nacional!

04/11/2009