27/02/2009

Sarney

Tenho pavor de figuras “públicas” como o José Sarney. Há um filme do Glauber Rocha, Maranhão 66, que já mostra este senhor no palanque d’algum sertão nordestino em 1966, rodeado por miseráveis, fazendo um discurso tão ruim quanto o que sempre se esforça em fazer, hoje, nas tribunas do Senado. Além do texto preciosista, fraco, insosso, é preciso ter estômago para agüentar a figura física e moralmente execrável desse parasita do estado brasileiro desde tempos imemoriais. O Glauber foi brilhante ao colocar, no filme, cenas de gente semi-morta, famélica, doente e assolada por moscas nos hospitais públicos do Maranhão, enquanto o Sarney derrama seu palavrório em off. Uma ironia que, por sorte, o “alto acadêmico” Sarney não percebeu: foi ele o financiador do filme. O que talha o sangue é saber que, quando essa figura grotesca morrer, não faltarão homenagens ao “ilustre brasileiro, defensor dos fracos e dos oprimidos, baluarte da luta pela liberdade em nosso país, elevado caráter e artesão supremo do nosso vernáculo”. Tudo pago com dinheiro seu, meu, nosso, naturalmente. Dá ânsia de vômito.

25/02/2009


Um editorial da Folha chamou a ditadura militar de "ditabranda", o que gerou um manifesto de repúdio de vários intelectuais. Eu assinei o manifesto e fiz esse desenho. Para conferir o texto, vão lá no blog do Massote: http://massote.pro.br.

20/02/2009

Leiam nesta matéria do "El país" http://www.elpais.com/articulo/agenda/Quien/mono/vineta/elppgl/20090220elpepiage_3/Tes a recente polêmica sobre a charge de um caricaturista do New York Post, um jornal reacionário, na qual o Obama é vítima de preconceito descarado. Como eu disse aí embaixo, cartum bom é para poucos.

Do humor

Encontrei um fã dos meus cartuns (talvez o único) na fila do banco. Conversa vai, conversa vem, enumerou algumas coisas de que gosta em matéria de humor gráfico. Citou, por exemplo, um site que odeio, o charge.com, e outro, que também detesto, o humortadela. Em contraponto ao fã, falei dos irmãos Caruso e de como esses gênios da charge derrubaram um presidente, nos anos Collor. Bem, aqui vai uma necessária canônica: por que os Caruso são melhores do que o charge.com? Ora, por que a parafernália audiovisual de que o charge.com se vale não acrescenta nada à tradição da boa caricatura: os desenhos são de um péssimo realismo e as piadas são apelativas. A caricatura, como se sabe, é filha bastarda do desenho clássico. Nasceu, se se quiser uma data burocrática, nos intervalos das aulas no ateliê dos irmãos Caracci, durante a Renascença. Nesse sentido, trata-se de um exercício primeiramente visual. Por último, vem o texto, que, necessariamente, deve ser mínimo, senão ausente. Os Caruso, por exemplo, dão o recado com o mínimo de palavras e o máximo de desenho. Seus trabalhos ficarão expostos no museu do cartum. O charge.com vai desaparecer miseravelmente, junto com quase tudo que se faz hoje no mundo virtual...

16/02/2009

Tirando a Alice Salles, ninguém escreve ao coronel. Acho que vou fechar este blog.

12/02/2009

11/02/2009

É preciso fazer alguma justiça a "Yellow submarine", entretanto. É um filme de baby-boomers, gente ainda sob a influência do pós-guerra. Veem-se, muitas vezes, os azuis a bombardear a cabeça de um general ou coisa assim (talvez o próprio Sargento Pimenta). Trata-se, sem dúvida, de um herói de guerra inglês. O que o filme parece querer dizer, afinal, é que está-se em outro tempo, um tempo em que a hegemonia (no sentido gramsciano) dos países ocidentais (dos aliados, enfim), vai se dar, agora, pela via da cultura e não à custa de chumbo. Era a mensagem da época: revolucionar, subverter a cultura, por que é nela que repousam, latentes, todos os males do mundo. Mas "Yellow submarine" subverte, ao se manter fiel à historinha linear e maniqueísta? Claramente não. O filme só resiste, então, como testemunho da extraordinária criatividade e domínio técnico dos desenhistas, os grandes responsáveis pelo seu sucesso.

10/02/2009

Revi o "Yellow submarine" dos Beatles pela enésima vez. Alguns desenhos ainda parecem fantásticos (a animação é soberba, uma obra-prima da psicodelia), mas a impressão geral é que tudo soa um pouco datado. O "peace and love" do filme é puro devaneio, especialmente quando se pensa nas guerras que rolavam na época. Os "azuis" surgem como uma clara referência ao comunismo, embora inconfessada. Isso não seria problema se a antítese aos "azuis" não fosse tão falsamente estável, pacífica, bonitinha e bucólica. (Mais tarde, esse apelo a um mundo nirvânico, lindinho e florido sucumbiria miseravelmente, sob a consciência anárquica dos punks, críticos ferrenhos da monarquia e do capitalismo pós-industrial.) Engraçado, até a música parece agora datada. Os desenhos, entretanto, conservam frescor e genialidade. Sabem o que acho? Os desenhistas poderiam ter feito miséria com toda a tecnologia, grana e disposição que tinham no período. Mas aí veio um roteirista, talvez egresso da publicidade e, abençoado pelos Beatles, bolou aquele script fuleiro...

04/02/2009

Borges, fundamental

Si el sueño fuera (como dicen) una
tregua, un puro reposo de la mente,
¿por qué, si te despiertan bruscamente,
sientes que te han robado una fortuna?

02/02/2009

O boi do sacrifício

O Massote é um homem do verbo. Ligou-me hoje para falar sobre o boi do sacrifício. Entre os tiranos gregos, era comum que pusessem um homem dentro da escultura oca de um bovino, sob a qual ateavam uma fogueira. O sacrificado urrava como boi e aquilo tudo era um entretenimento apresentado em praça pública. O Massote sugere o método para cuidar de determinadas figuras da cena política. Por que não o Sarney?

01/02/2009