25/06/2009

Cartola


Este desenho vai pra uma galeria de grandes mestres do samba que eu e meu amigo jornalista Zu Moreira vamos fazer. Visitem o blog do Zu: A casa do samba

24/06/2009

Capítulo 7 de "Rayuela", do Cortázar

"Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água."

Bueno, em espanhol fica ainda mais bonito...
Atendendo ao pedido do meu amigo Eugênio, publico o primeiro parágrafo de "Vida y muerte de un traductor de películas", conto que mereceu um prêmio do Instituto Cervantes. Lá vai.

Se apagan las luces. Un haz luminoso atraviesa la negrura hasta la pantalla blanca, donde el gran ojo de pestañas inferiores postizas mira fijamente en mi dirección. La cámara en zoom recula despacio mostrando el ahumado interior del Leche Bar Korova. En el amplio salón azul hay muñecas desnudas, luces de neón color de rosa y chicos tomando leche dopada. Conozco bien ese lugar. Estoy devuelto al viejo mundo de luz y sombra del cine, un mundo extraño y a veces hostil, pero también tierno y voluptuoso. Me quedo bien aquí. Esa es mi realidad, no la otra, de carne, hueso, asfalto, horarios y cuentas por pagar. Lo mío es ese mundo de hombres y mujeres artificiales, esculpido en la materia huidiza del tiempo. (...)

23/06/2009

Minha amiga e vizinha Mahgah veio tomar um chá inglês aqui ontem. Conversa vai, conversa vem, perguntou:
- Quer dizer que você está no doutorado... E em que fase você está?
- A do desespero...

22/06/2009

Que diabo. Ganhei meu primeiro concurso literário (em espanhol), com o conto "Vida y muerte de un traductor de películas". O prêmio não foi lá grande coisa, mas vá lá. Publico aqui um trecho, após as modificações necessárias.

Homenagem a Cortázar

16/06/2009

Tive um sonho estranho ontem (como se todos não o fossem). Circulava por um salão onde várias pessoas se aplicavam num teste para participar de um filme nacional. Eu estava completamente nu e conversava numa boa com uma figura qualquer. Quando me dei conta de que aquilo era um lugar e uma situação públicos, falei pra moça: "Isto aqui é um sonho, viu? Posso fazer o que quiser." Continuei circulando quando de repente a cena corta para um corredor (em preto-e-branco) como o de O Processo e lá estão alguns colegas de serviço, encostados às paredes. Eu aceno para um sujeito conhecido, que me devolve o cumprimento, sorrindo. Era o princípio de realidade, pedindo para entrar no sonho. Acordei meio zonzo...

10/06/2009

Eventuais e queridos leitores, segurem as pontas aí que estou muito ocupado. Como dizia aquele VJ, logo mais, tem mais!!

06/06/2009

Yes, nós temos banana

No Brasil faz-se o chamado filme pornográfico de pobre. Planos longos e tediosos, pouca (ou nenhuma) ação dramática, locações horríveis, montagens deploráveis. Interessa mostrar aquilo em cima daquilo, em planos-detalhe acintosos. Uma sonda ginecológica faria melhor. Mas o que me choca mesmo, o mais das vezes, é ver como tudo se revela tão pobre e simplezinho. Não consigo deixar de pensar na vida miserável daquela "atriz" e em como ela teve de passar o diabo para chegar a fazer o que faz. Não consigo deixar de imaginar, por exemplo, seus dois filhinhos em casa esperando a mamãe trazer pra casa a féria do dia. No pornô brasileiro, é interessante notar, ainda, uma prosaica opção por valores domésticos e nacionais (mais por falta de grana do que por altivez): em vez dos vibradores supermegapower dos americanos, aqui temos humildes cenouras, bananas e patéticos balões introduzidos em moças com caras de "o que é que eu tô fazendo aqui?". Em vez das homéricas orgias ultra-tecnológicas norte-americanas, damos preferência a sexo com galinhas, anões, cavalos e cachorros. Como diria o Paulo Francis: waaaalllllll...