03/10/2008

Ensaio sobre a cegueira

Em seu novo filme, "Ensaio sobre a cegueira", Fernando Meirelles erra na mão. Tem algo de fundamentalmente impróprio ali. A estética de Meirelles ficou muito associada ao realismo, e, quando ele envereda por uma narrativa tão fantasiosa quanto é a do livro do Saramago, parece inadequada, fora de lugar. Não dá, a ficção algo surreal de Ensaio sobre a cegueira (o livro) pede estilização. As tomadas com câmera tremida de Meirelles estão presas à estética convencionalmente ligada ao realismo documental e simplesmente não funcionam se o assunto é a bizarra distopia criada pelo escritor português. Sei lá, quando li o livro (não todo), imaginei a coisa em preto e branco, ou, de outra forma, com cenários à semelhança dos de Terry Gilliam em "Brazil, o filme". Mas Meirelles pode se recuperar no próximo filme, ele é bom e tem talento pra isso. Isso se ele voltar pro realismo, que é a sua praia.

3 comentários:

Alice Salles disse...

eu não vi o filme ainda, vou ver esse fim de semana mas não seu porque acho que já concordo com o que você disse.

Alice Salles disse...

Vi o filme!
Bom... tenho que dizer que foi a coisa mais angustiante que jamais vi. por isso aplaudo o Meirelles que conseguiu arrancar ISSO de mim. Mas acho que de certa forma pelo o filme ser tao "real" da uma sensacao de que e deveras falso. Mas, resumindo, eu gostei! Nao tanto quanto gostei dos ultimos dele.

Paulo Barbosa disse...

É Alice, talvez eu tenha sido severo demais em meu juízo. A angústia que você sentiu decorre do bom narrador que Meirelles é. Ele consegue prender a atenção do espectador através do suspense (em suma, sabe fazer cinema dos bons). E, pensando bem, aquele pesadelo distópico está muito bem realizado. Não precisava estilizar. Talvez a minha indisposição com filme tenha sido porque eu esperava mais uma grande leitura crítica da realidade política atual, como no seu penúltimo filme. Mas Meirelles é Meirelles e eu sou eu. Ele manda muito bem, não cabe dúvida.