14/10/2009

O horror à mídia

Não é de hoje que ouço meus amigos petistas, contaminados por uma expressão infeliz disseminada pelo Paulo Henrique Amorim, chamarem a imprensa de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Pela estreiteza de raciocínio, isto já me dá nos nervos. Chego a pensar que há uma estratégia em curso para a permanência do PT no poder ad infinitum, através de um controle estatal da informação. A questão da "mídia" sempre foi uma faca de dois legumes: ao mesmo tempo que certos grupos têm razão em dizer que ela manipula a informação (descobriram a pólvora!), um discurso como este serve também ao vitimismo político. Assim, os governos de mezzo-esquerda como o nosso ou os de esquerda burocrática como o do Chávez, por exemplo, são uns eternos perseguidos, somente porque foram objeto da crítica de determinados jornais ou jornalistas. Não houve corrupção, não houve incúria, não houve mandonismo, não houve pouca conversa com a sociedade: tudo não passou de intriga da imprensa. Assim fica fácil governar: aquilo que for objeto de crítica da imprensa não passará de uma campanha da oposição, pois o governo só quer o bem do povo. E, no entanto, o inferno está cheio de boas intenções (taí o Sarney, que não me deixa mentir). Será preciso ainda lembrar que, em outras épocas, jornais sofreram empastelamentos, perseguição política e censura? Que jornalistas foram suicidados, silenciados ou impedidos de trabalhar? Que alguns lidam com situações assim ainda hoje, em certos rincões do país? Esse discurso de criticar a mídia como se fosse uma entidade satânica é monolítico, generalizante e, portanto, tão burro e parcial quanto os textos do Diogo Mainardi. Trata-se de uma maneira de calar a sociedade. Nem todo jornal é o jornal Nacional. Nem toda TV é a Rede Globo. Nem toda revista é a revista Veja. Nem todas as intenções do governo são sacrossantas. O PT tem seus próprios órgãos de comunicação, também bastante tendenciosos e ideologizados. É preciso que se defina melhor quais e quantas são as mídias, no que elas se diferenciam, quais são seus donos e suas intenções não-explícitas. Tendo isso em conta, é possível fazer uma leitura crítica das TVs e dos jornais. Ao lado disso, é preciso combater o monopólio da informação, estatal ou privado. O resto é autoritarismo enrustido.

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