28/05/2008

Sexo e TV em cores

Homem do século passado, lembro-me perfeitamente da chegada – um tanto atrasada – da TV em cores à casa dos meus pais, nos idos de 1980: o fato teve conseqüências profundas no contexto familiar. Em pouco tempo, o aparelho tornou-se o centro das atenções; a TV antiga, em preto-e-branco, foi rapidamente descartada, e a programação passou a ser esquadrinhada pela minha mãe. O tubo catódico ganhou uma inédita carga erótica: ligá-lo significava ter acesso, principalmente à noite, a um mundo repleto de promessas sexuais. Não que não houvesse erotismo antes da cor. O problema é que, em cores, tudo parecia incrivelmente mais lúbrico e sensual. E quanto mais a minha mãe tentava controlar o monstro que ela mesma criou, maior tornava-se o nosso interesse pelas imagens. A cena inocente de uma garota fazendo piquenique na grama, por exemplo, surgia incrivelmente picante. Anúncios de lingerie e de desodorante feminino pareciam mais calientes do que nunca. Beijos de novelas eletrizavam a nossa imaginação, causando-nos sucessivas noites mal-dormidas. A correta e salutar prática do onanismo em nossa família, em suma, deve muito ao advento da TV colorida.

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