02/07/2008

Tribulações de um síndico

O sujeito bateu à minha porta com uma intimação para o morador do 15. Sinistro, procurou extrair uma série de informações desnecessárias, como os horários do condômino no prédio, sua vida cotidiana, seu emprego, seus hábitos. Só faltou pedir o nome dos pais e dos familiares. Percebi que o cara, um policial civil, estava indo além de suas atribuições e disse a ele não poder dar mais informações do que o previsto na Constituição. Ele então parou com as perguntas, admitindo inclusive estar fora do horário permitido por lei para entrar na casa dos outros. A forma intimidatória que utilizou para me abordar dentro de minha própria casa, contudo, lembrou o passado militar brasileiro, de tão triste memória. O fato, somado a situações recentes, como o caso da favela da Providência no Rio, a invasão da PM na UFMG agredindo estudantes, as ações (ir)regulares da polícia no dia-a-dia contra jovens e crianças pobres nas periferias, leva à constatação de que o cadáver da ditadura segue insepulto entre nós, gerando toda sorte de malefícios. Se não reagirmos a tempo, daqui a uns dias estaremos habitando o pesadelo kafkiano de "O processo" sem saber porquê.

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