06/04/2009

Guz

Voz tonitruante, gargalhadas satânicas, óculos de lentes grossas, barriga proeminente, a perna esquerda com sérios problemas reumáticos. Guz é um tipo curioso de caricaturista, não apenas no aspecto físico. Em certo sentido, parece-se com o Lacarmélio, aquele quadrinista que sai por aí vendendo a si mesmo pelas esquinas, misturando atividade artística com publicidade. A exemplo do autor de “Celton”, Guz se auto-promove o tempo todo, exaustivamente, com bottons, cartões, sites, blogs na internet e até ímãs de geladeira. Suas caricaturas são reverentes, retratos bem-educados de seus modelos. Baseiam-se mais na relação entre artista e modelo, construída durante o trabalho, marcado pela conversa fluida e bem-humorada. E a sua prosa é, talvez, o que ele tem de melhor, eivada de palavrões e referências a mulheres, cheia de histórias pitorescas da ditadura militar, sempre com um olhar crítico para a caótica Belo Horizonte atual. Já os desenhos são os de um publicitário, mais que os de um caricaturista. Não por menos, vendem incrivelmente bem. Já fiz muita caricatura em boteco e sei como essa arte é difícil: as pessoas querem sempre “sair bem na foto”. Guz costuma fazer seus retratados melhores do que eles são. E também faz o lado palhaço que todos querem ver no cartunista. Resultado: ganha mais com a caricatura do que com a magérrima aposentadoria de engenheiro.

Um comentário:

Alice Salles disse...

Criatividade é tudo, até na hora de improvisar pra sobreviver... Porque o que mais podemos fazer...?