
Pílulas sobre cinema, arte, hqs e cartuns, comentários efêmeros, confissões inconfessáveis, movimentos barrocos, delírios, divagações, elucubrações e exibicionismos baratos.
30/06/2008
26/06/2008
25/06/2008
Dona Ruth
Chargeei a D. Ruth milhares de vezes. Mas sempre a desenhei como uma espécie de grilo falante do FHC, mais honesta e mais inteligente. Admirava muito a sua figura, à prova de imposturas e empulhações. Vai-se uma grande brasileira.
Códices
Assim como hoje trocam-se filmes, antigamente trocavam-se livros. Embora tenha passado cerca de dois terços da minha vida no cubo escuro de um cinema, confesso que prefiro trocar livros, com os quais tenho uma relação profundamente erótica. Gosto de cheirá-los (sobretudo quando novos), acariciar suas capas, perceber a singularidade de sua tipografia. Observo com interesse a ação do tempo sobre páginas tornadas gastas pelos sucessivos olhos que ali transitaram, os colofões, os ex-libris, as dedicatórias infames, as anotações de eventuais leitores. Alguns livros nem mesmo é necessário ler: ficam virgens na estante até serem absorvidos por osmose, conforme ensina Eco. E quando chego ao cabo de um dos bons, já quero voltar a ele, passear novamente pelas veredas por onde me levou. Não que eu não troque filmes, gosto disso também. Mas dvds emprestados ficam parados, presos em feias caixas de plástico, até que um dia eu tenha tempo e paciência de libertá-los. Não há o toque macio dos livros, não há osmose: é preciso disciplina para receber a imensa carga de informações que um filme traz. E sem o adjutório do texto impresso fica ainda mais difícil, ao menos para mim, assisti-lo do modo mais adequado. Longa vida ao velho códex!
24/06/2008
Rawet
Já leu Samuel Rawet, baby? Então faça o favor de ler. É talvez o melhor escritor brasileiro da segunda metade do século vinte. Estou às voltas com seus contos e novelas, amargos como quê. Morava só, era meio maluco e foi encontrado morto em sua casa - provavelmente se suicidou. Estrangeiro radicado no Brasil, seu texto é a voz do exilado numa terra de ninguém.
Recomeço
Recomeça...
Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto
queiras só metade.
Miguel Torga
(Este bom poeta português foi um perseguido de Salazar. Na parede de uma igreja, no ponto mais alto do D'Ouro - o nome da localidade é São Gonçalo da Galafura -, tem um poema dele, escrito em azulejos azuis. "Oração ao rabelo", se não me falta a memória.
Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto
queiras só metade.
Miguel Torga
(Este bom poeta português foi um perseguido de Salazar. Na parede de uma igreja, no ponto mais alto do D'Ouro - o nome da localidade é São Gonçalo da Galafura -, tem um poema dele, escrito em azulejos azuis. "Oração ao rabelo", se não me falta a memória.
Outra página de hq
Página de hq
22/06/2008
Elas
Mulheres são boas quando loquazes. Falantes, elas despem-se, desnudam-se diante de nossos olhos incrédulos. Mudas, estão a tramar alguma coisa, e podem desestabilizar o universo com um simples movimento dos lábios. Todo homem de juízo deve rezar sempre: Senhor, livrai-me da mulher calada, amém!
19/06/2008
Espetáculo degradante
Engana-se quem ainda pensa que futebol é o esporte das massas. O espetáculo degradante em que se tornou o recente Brasil x Argentina provou o quanto essa noção está definitivamente mudada. No Mineirão, ontem, não havia lugar para pobres: nas arquibancadas, somente a bourgoisie mineira deu as caras. Tudo não passou de um show (de extremo mau gosto, diga-se) feito para as câmeras, com direito à presença de ricos e famosos, como o governador Aécio Neves, ídolos do esporte e artistas globais. Esperto, Neves viu no clássico a oportunidade de se auto-promover nacionalmente, motivo pelo qual gastou os tubos com a reforma do estádio e com um aparato de segurança no mínimo desnecessário. O movimento para riscar o povo sumariamente desse programa ruim começou já no preço dos ingressos: o mais barato, na geral, era R$30,00. Por mais fanático por futebol, que assalariado vai ter 30 paus para gastar com um lazer tão caro? O resultado, política e moralmente lamentáveis, parece ser fruto da tendência midiática atual de sempre fazer vista grossa às nossas eternas mazelas.* Só faltou a arquibancada, em vez de vaiar, balançar as jóias pedindo a cabeça do Dunga.
*O Brasil já foi menos cínico: que saudade de Joaquim Pedro de Andrade, com o seu Garrincha, alegria do povo! Que saudade de Glauber! Que saudade dos diretores cinemanovistas!
*O Brasil já foi menos cínico: que saudade de Joaquim Pedro de Andrade, com o seu Garrincha, alegria do povo! Que saudade de Glauber! Que saudade dos diretores cinemanovistas!
18/06/2008
Ziggy Stardust
Ninguém me disse, tampouco li em semanários de rock, mas o clássico Ziggy Stadurst, do David Bowie, foi muito provavelmente inspirado na figura do Iggy Pop. Descobri por acaso, assistindo a um vídeo dos anos 1970, no qual o iguana entrevista-se para uma TV francesa. No vídeo, Iggy Pop mostra a...ãnh....bunda acintosamente para as câmeras. Para além da evidente homonímia Ziggy/Iggy, um dos versos da música de Bowie diz: Ziggy played for time, jiving us that we were vodoo/and kids were just crash/he was the nazz, with a god given ass. Como se sabe, o Iggy Pop tem um traseiro substantivo e o disco do Bowie é exatamente do período em que o maluco inventor do punk estava bombando e despirocando geral. Naquela época, Bowie costumava cantar covers do iguana e do Lou Reed: tirou os dois do oblívio, para a sorte e saúde do velho e bom rock’n’roll. But boy could he play guitar...
13/06/2008
Iggy Pop
Se você, como eu, adora o Iggy Pop, não pode perder isto: o cara, ao vivo, nos anos 70, com os Stooges, mandando ver The passenger!! Yeahhh!!
http://www.youtube.com/watch?v=y4hPnZUMBwA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=y4hPnZUMBwA&feature=related
12/06/2008
10/06/2008
06/06/2008
Recuerdos de Guarapari
04/06/2008
Vampyr
Querem um filme realmente estranho? Vampyr (1931), do Carl Dreyer. Pesadelo surrealista é pouco para defini-lo. Causou um colapso nervoso no diretor, que demorou para se recuperar do fiasco de bilheteria. O filme também conduziu seus produtores à falência. Quanto ao público, ninguém entendeu absolutamente nada. Muitos continuam sem entender...
Livros do mal
Há livros que modificam a vida das pessoas, e isso não é um clichê para vender best-sellers de auto-ajuda. Para o bem e para o mal (o que quer que seja bem e mal), determinadas obras são capazes de nos influenciar tão profundamente que nos esquecemos até mesmo de nossas referências anteriores. A tela demoníaca, de Lotte Eisner, que li em 2003, por exemplo, marcou decisivamente o meu modo de desenhar e de ver o mundo. Depois desse livro, passei de um traço underground (eu me gabava disso, vejam só) a um expressionismo dos mais sinistros. A tela demoníaca, como se sabe, é um clássico sobre o cinema expressionista do pós-guerra alemão. Nele, Eisner desvela a atmosfera que produziu um dos mais radicais estilos cinematográficos de todos os tempos. É um livro feito de augúrios, pesadelos, emanações mefíticas, visões de horror, de loucura, de morte e de desespero. É a anti-auto-ajuda por excelência, são as entranhas da alma alemã, mostradas com expressividade elevada ao seu grau máximo. Nunca mais fui o mesmo depois desse livro. Pior: na sequência ainda devorei De Caligari a Hitler, do Siegfried Kracauer, e As sombras móveis, do Luiz Nazário: deu no que deu. Quem avisa amigo é, não leiam esses livros!
02/06/2008
Assinar:
Postagens (Atom)