25/06/2008

Códices

Assim como hoje trocam-se filmes, antigamente trocavam-se livros. Embora tenha passado cerca de dois terços da minha vida no cubo escuro de um cinema, confesso que prefiro trocar livros, com os quais tenho uma relação profundamente erótica. Gosto de cheirá-los (sobretudo quando novos), acariciar suas capas, perceber a singularidade de sua tipografia. Observo com interesse a ação do tempo sobre páginas tornadas gastas pelos sucessivos olhos que ali transitaram, os colofões, os ex-libris, as dedicatórias infames, as anotações de eventuais leitores. Alguns livros nem mesmo é necessário ler: ficam virgens na estante até serem absorvidos por osmose, conforme ensina Eco. E quando chego ao cabo de um dos bons, já quero voltar a ele, passear novamente pelas veredas por onde me levou. Não que eu não troque filmes, gosto disso também. Mas dvds emprestados ficam parados, presos em feias caixas de plástico, até que um dia eu tenha tempo e paciência de libertá-los. Não há o toque macio dos livros, não há osmose: é preciso disciplina para receber a imensa carga de informações que um filme traz. E sem o adjutório do texto impresso fica ainda mais difícil, ao menos para mim, assisti-lo do modo mais adequado. Longa vida ao velho códex!

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