19/06/2008

Espetáculo degradante

Engana-se quem ainda pensa que futebol é o esporte das massas. O espetáculo degradante em que se tornou o recente Brasil x Argentina provou o quanto essa noção está definitivamente mudada. No Mineirão, ontem, não havia lugar para pobres: nas arquibancadas, somente a bourgoisie mineira deu as caras. Tudo não passou de um show (de extremo mau gosto, diga-se) feito para as câmeras, com direito à presença de ricos e famosos, como o governador Aécio Neves, ídolos do esporte e artistas globais. Esperto, Neves viu no clássico a oportunidade de se auto-promover nacionalmente, motivo pelo qual gastou os tubos com a reforma do estádio e com um aparato de segurança no mínimo desnecessário. O movimento para riscar o povo sumariamente desse programa ruim começou já no preço dos ingressos: o mais barato, na geral, era R$30,00. Por mais fanático por futebol, que assalariado vai ter 30 paus para gastar com um lazer tão caro? O resultado, política e moralmente lamentáveis, parece ser fruto da tendência midiática atual de sempre fazer vista grossa às nossas eternas mazelas.* Só faltou a arquibancada, em vez de vaiar, balançar as jóias pedindo a cabeça do Dunga.
*O Brasil já foi menos cínico: que saudade de Joaquim Pedro de Andrade, com o seu Garrincha, alegria do povo! Que saudade de Glauber! Que saudade dos diretores cinemanovistas!

Nenhum comentário: