04/12/2010

Um homem, uma cidade

O homem estava disposto a gostar da cidade. Ávidos, seus olhos devoravam a paisagem de aço e concreto armado. Sobretudo a arquitetura exuberante impunha-lhe este admirar-se por um lugar cuja história parecia ter sido dedicada a desvendar o segredo de como dominar a pedra e o aço. Prédios, praças, parques, viadutos, monumentos, locais públicos, o espaço urbano surgia ali enfim subjugado, organizado à proporção dos desejos e necessidades dos homens, assolados pela necessidade também de transcender-se. Ferro, vidro, madeira, todos esses materiais incrivelmente insubmissos assumiam, no skyline da cidade, formas suaves, líquidas, sinuosas. Contemplar os prédios em perfil serpenteando pelo céu plúmbeo era-lhe, pois, um exercício filosófico. Aqueles edifícios haviam sido feitos por uma altíssima habilidade fabril. Podia-se chegar àquele nível de cuidado com o cenário urbano. Muitos séculos de aprendizagem técnica impuseram-se para isso, com efeito. Mas alcançou-se o ponto, o nec plus ultra da ambiência urbana. O mundo, a humanidade podiam ainda salvar-se: Gaudí não estaba brincando de playmobil.

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